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Sirizeiras de São Gonçalo: a invisibilidade social, por Oswaldo Mendes


Trabalhadora da pesca. Bem poderia ser gonçalense/Foto: Internet
Trabalhadora da pesca. Bem poderia ser gonçalense/Foto: Internet

Idos de 1990. Praia de São João, Ilha de Itaóca– São Gonçalo. Saudoso Nena cria a “Segunda Sem Fome” em resposta ao também sucesso da época na cidade que era o “Segunda Sem Lei”,o qual tinha como base no Pita.


“Segunda Sem Lei” era grupos de pagodes que tocavam em um ambiente agradável, mas “Sem Lei” só no nome, advindo de um seriado na televisão.


A Ilha de Itaóca sempre foi base de pescadores artesanais, catadores de caranguejos e siris, com técnicas centenares. A Caeira, também denominada de Focinho de Porco – Praia de São Gabriel, foi base de pescadores e também de barcos que faziam o transporte de mercadorias e pessoas para a Ilha de Paquetá, desde água a remédios, pois a travessia dura em torno de dez minutos.


Essas travessias sempre existiram e em face de legislação e segurança também sempre foram proibidas e assim combatida pela Capitanias dos Portos. Logicamente também há outros interesses econômicos e políticos para não abertura de novas rotas marítimas, dentre elas, o esvaziamento de Niterói.

Ibirapitanga talvez nos defina na melhor concepção da palavra. Diversos pequenos portos em toda a extensão do município e pescadores trazendo seus produtos frescos para serem vendidos nas barracas improvisadas das Praia da Luz, Pedrinhas, Caeiras e São João. Pescado, frutas nativas e caça eram do que a população daquela localidade tinha como base em sua alimentação.


Nesta época o pescado na Baía ainda era considerado suficiente. Já se falavam em despoluir a citada Baía, mas todos sabem que obra debaixo da terra não dá voto e quanto mais miséria e baixa educação mais fácil controle.


Não temos a especialidade em pesca e seus desdobramentos. Há especialistas no assunto que são da cidade, porém colocados de lado nas decisões ou até mesmo em possíveis consultas, como D. Sc. Márcia Mendes e D. Sc. Antônio Marcos Muniz. Outros conhecedores são o pessoal da AHOMAR, na pessoa de Alexandre Anderson, Associações de Pescadores e o grande Professor Sidão, com pesquisas diversas na área, dentre outros.


Pescadores artesanais da Baía de Guanabara, dentre outros, são heróis. Pessoal sofrido e invisíveis pela Sociedade lutando contra a violência, traineiras, falta de estruturas, doenças do trabalho e desprezo da Sociedade.


No Rodo de Itaóca, na década de setenta tinha Seu Quito e Dona Dorvalina, são alguns dos que sobreviviam da pesca e principalmente da carne de siri, isto na década de setenta. Ali perto do Bar do Lalau e da Capela de Santo Antônio, assim achamos. Isto um pouco antes da entrada dos transmissores da Rádio Tupi e Tamoio. Entre as Quebradas e a casa de Florzinha, a qual na frente tinha um tabual e a entrada para a Praia da Beira.


Tudo destruído principalmente pela desgraça denominada Estrada do COMPERJ, que só traz sofrimento à cidade. Foram avisados dos seus reflexos, mas assinavam qualquer coisa. Malditos!


As Quebradas ficam a uns duzentos metros da antiga Ponte do Rodízio, a qual era de madeira e nas “marés de abril” ficava submersa e em dias de trovoadas caranguejos passeando nas pistas.


No Morro de São João era muito bem frequentado. Iates na Praia da São João e um dito cassino com figuras ilustres da época. E a Ilha do Sol: Luz Del Fuego, a qual faria agora em 21 de fevereiro, cento e três anos de seu nascimento.


Falésias – lá também tem. A Igreja da Luz e muito mais. Detalhes com o meu amigo Toledo – estudioso, assíduo frequentador e conhecedor da localidade.


Na Praia da Luz quiosques foram estruturados quando Ezequiel foi prefeito da cidade. Impossível não citar a igreja histórica de Nossa Senhora da Luz, da festa, dia 2 de fevereiro e a procissão de Pescadores. Uma fórmula que deveria dar certo por muito tempo na criação de emprego e renda, tendo em vista a questão histórica, ambiental e pequenos empreendedores da localidade em parceria com pescadores artesanais, assim como em outros pontos da ilha. A violência afastou os clientes.

O Programa de Despoluição da Baía de Guanabara ficou no papel e ninguém considera que as fezes que chegam a Baía seja também sua, mas do vizinho; empresas poluem indiscriminadamente sob a pecha de dar empregos e pagar impostos; sem a efetiva vontade política e verbas as ETES’s – Estações de Tratamento de Esgoto – exemplo a da Praia das Pedrinhas e suas inúmeras inaugurações desde Marcelo Allencar e sem funcionamento até hoje; rios, córregos e riachos são feitos de depósito de lixo e esgoto pela população; não há separação de água pluvial e de esgoto na cidade para completar a “Caixa de Pandora” e assim desdobrando-se com a redução drástica de pescado. Como já escrito adicione-se a tudo a violência e perda de poder econômico da população.


A violência no mar e terra, além do sofrimento contínuo, faz com que a profissão de Pedro seja colocada de lado – os filhos não mais a seguem. O mar ficando vazio de almas. Onde estão os Pescadores?


Os siris agora vem de Cabo Frio. Fervidos e nas mãos das ágeis e poucas Sirizeiras que ainda na cidade existem, retiram a sua carne para venda nos melhores bares e restaurantes. Atualmente as Sirizeiras continuam sua luta diária na Ilha de Itaóca, nas Mangueiras, ali perto do CIEP 430 – Carlos Marighella, invisíveis.


Em torno de sessenta siris machos ou duzentas fêmeas conseguem fazer um quilograma de carne de siri pura. Mas quem pensa que consome carne de siri quando é pedido nos melhores bares ou restaurantes se encontra em delírio. Essa carne é vendida pura, mas por ter gosto muito forte e ser escassa ela é misturada com peixes de baixo valor, dentre eles a arraia. Em proporções de até nove para um e na maioria dos casos essas ditas “casquinhas de siri” só tem mesmo o nome e a casca. Mais nada.


Na próxima vez que for saborear uma casquinha de siri lembre-se do trabalho dos pescadores e das sirizeiras, invisíveis, assim antes de jogar lixo no chão, façam ato de respeitar a cidade o também invisível Lixeiro e outras profissões.


Como também na “Caixa de Pandora” todos nós devemos ter esperança por dias melhores. Esperança é a única coisa que move todos os Homens e Mulheres do Mar!

Oswaldo Mendes é engenheiro.




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