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São Gonçalo como objeto de colecionismo: Canetas, por Rui A. Fernandes


Caneta de Joaquim de Almeida Lavoura. S/d. Acervo Pessoal
Caneta de Joaquim de Almeida Lavoura. S/d. Acervo Pessoal

Item tão corriqueiro encontrado quase que universalmente em qualquer mochila escolar, bolsa feminina ou em estabelecimentos comerciais, bancários e de serviços. É um objeto que possibilita a escrita em superfícies diversas, especialmente no papel. Apesar dos registros digitais terem avançado bastante nos últimos anos, o uso da caneta esferográfica ainda é bastante difundido. Há, no entanto, uma longa história de invenções de objetos utilizados para escrever que remontam ao surgimento dos primeiros sistemas de escrita.


Há registros, que datam do primeiro milênio antes de Cristo, de que os chineses usavam pequenos pincéis para escrever. Outros povos utilizaram outros objetos para o mesmo fim. Os egípcios utilizavam varetas de bambu, em 300 a.C. Entre as ruínas de Pompeia – cidade italiana que foi destruída pelo Vesúvio em 79 – foi encontrada uma espécie de caneta com ponta de bronze. No entanto, o objeto mais duradouro, utilizado para escrita, foi a pena de ganso. A enciclopédia organizada por São Isidoro de Sevilha (560-636) registrava a novidade, explicando como utilizá-la. O comércio de penas de ganso se tornou um dos mais longevos e lucrativos da história. Entre 1800 e 1830, por exemplo, São Petersburgo, na Rússia, exportou mais de 27 milhões de penas por ano para a Inglaterra.


O primeiro modelo comercial de caneta tinteiro foi inventado por Lewis Edson Waterman, em 1884, nos EUA. Nele a tinta era injetada no reservatório da caneta com um tipo de seringa. Posteriormente, foram desenvolvidos modelos em que a ponta metálica também absorvia a tinta. Para retirar os excessos de tinta e evitar que houvesse manchas, era utilizado o mata borrão. Em 1927 começaram a circular os primeiros cartuchos descartáveis.


A caneta esferográfica foi inventada em 1932 pelo revisor tipográfico húngaro Lazlo Biro. Observando o funcionamento da rotativa, equipamento que se empapava de tinta e imprimia o texto gravado sobre o papel, teve a ideia de criar uma caneta que não borrasse e cuja tinta não secasse no depósito. Com a ajuda de seu irmão Georg Biro, químico, e de Imre Gellért, técnico industrial, criou o sistema onde a tinta era depositada em um tubo plástico. Na ponta havia uma bola de carbeto de tungstênio que controlava a liberação da tinta. Foram seis anos de estudos para aperfeiçoá-la. Por ser uma tecnologia tão complexa, os primeiros modelos chegavam a custar 100 dólares. Em meados da década de 1940, Biro vendeu a patente de seu invento para o francês Marcel Bich, que desenvolveu um novo modelo, que barateou o custo e a popularizou. Utilizando seu próprio nome construiu uma das empresas mais conhecidas do mundo: BIC.


Em 1962, o japonês Yukio Horie desenvolveu a caneta hidrográfica, com ponta porosa feita de fibra sintética, que se tornou um dos materiais escolares obrigatórios: marca texto, hidrocor ou canetinha.


Hoje possuímos um amplo leque de canetas, que se diferem pelos materiais utilizados em sua confecção e cor, e vão dos modelos mais simples às mais sofisticadas e elegantes, das de uso comum àquelas de profissionais. Por isso, há um campo fértil para os colecionadores de canetas, especialmente as de luxo.


As partir dos anos 1960, as canetas tornaram-se um dos objetos utilizados para divulgar estratégias publicitárias ou para registrar efemérides. Nos anos 2005 a 2012, canetas esferográficas nas cores azul, preta e vermelha, integravam os conjuntos de materiais escolares distribuídos para os alunos da rede municipal de São Gonçalo. Nesses exemplares eram fixados o nome da Prefeitura Municipal.


Estabelecimentos comerciais e prestadores de serviços também estampam suas logomarcas como forma de brindar seus clientes e divulgar seus serviços. Uma variável deste tipo são aquelas de veiculam efemérides aniversárias da instituição.


Por fim há canetas que são especiais não pelo produto do qual é feita ou pela marca que veicula, mas sim por quem a possuiu. Uma das penas mais famosas de nossa história foi aquela utilizada pela Princesa Isabel para assinatura da Lei Áurea, que acabou com mais de três séculos de escravização dos negros. Tornou-se peça musealizada ocupando lugar de destaque no Museu Imperial, em Petrópolis. Em nossa coleção possuímos uma caneta tinteiro que pertenceu a Joaquim de Almeida Lavoura. Mítico personagem político da cidade que iniciou sua trajetória como vereador na década de 1940, exerceu por três vezes a chefia do executivo local (1955-1959, 1962-1965 e 1971-1973) e constituiu um grupo que controlou a política local até o final da década de 1980.


O colecionismo de lápis de grafite pode ser considerado uma variante. Também foram utilizados como peças publicitárias especialmente entre os anos 1940 e 1970, perdendo espaço para as canetas esferográficas. No entanto, são peças tão interessantes quanto as canetas para a recomposição da história dos estabelecimentos econômicos e dos prestadores de serviços que atuavam na localidade, assim como da história da publicidade em lugares e por marcas não badaladas.

BIBLIOGRAFIA:

BIGIO, Viviane. Caneta esferográfica. In: Jornal Maturidades. Universidade Aberta à maturidade da PUC-SP. São Paulo, nº 66, dezembro de 2017. Disponível em : https://www5.pucsp.br/maturidades/curiosidades/curiosidades_65.html Acessado em 31/12/2020.


IMAGENS:

Caneta e lápis que compunham o kit escolar distribuídos pela Prefeitura de São Gonçalo. Entre 2005 e 2012. Acervo Pessoal.


Canetas de divulgação da Hospedaria da Ilha das flores (s/d) e da FFP/UERJ alusiva aos 70 anos da instituição (2020). Acervo Pessoal.


Rui Aniceto Fernandes é professor de História do Departamento de Ciências Humanas (DCH) da Faculdade de Formação de Professores (FFP-UERJ).




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