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Tia Cléa: Amor incondicional ao samba - de Mãe para Filha, por Oswaldo Mendes


Tia Cléa/Foto: Acervo pessoal
Tia Cléa/Foto: Acervo pessoal

Idos de 1970, uma bela menina toma a decisão de assistir ao desfile do GRES Viradouro na Avenida Ernani do Amaral Peixoto, no centro de Niterói. Ela não tinha costume em participar de nada “do lado de cá da poça d’água”. Convivia mais nos pagodes do Salgueiro, juntamente com amigos. E assim o faz: veio para Niterói. Ressalta a Tia Cléa que tem grande carinho pelo Salgueiro, mas seu amor é outro: vermelho e branco.


O olhar crítico e selecionador do saudoso Albano – “O Gordo”, como era tratado carinhosamente pelos mais próximos, ex-presidente da Viradouro, que pediu a seus assessores que avisassem a uma menina que estava na plateia que o mesmo queria falar com ela. Ela ainda resistiu, mas foi convencida pelo assessor. Foi então apresentada ao presidente da escola que lhe fez o convite para participar da Viradouro.


Albano tinha esse olhar crítico e sempre atuava buscando trazer os melhores para a Escola, pois naquela época havia uma grande competição entre as escolas Viradouro, Cubango e Corações Unidos. O carnaval de Niterói era considerado o segundo melhor do país nessa época. Convite desse tipo partiram para inclusive o Grupo de Passistas “Os Mudos” do Cacique das Palmeiras, em depoimento que gerou artigo do Reinaldo Guimarães pelo Albano. Um caçador de talentos. Essa pessoa convidada era a Cléa, que começa uma trajetória e nunca mais sai da Viradouro.


A sua mãe, Tia Linda, já participava da agremiação, mas como é muito comum, com filhos até uma certa idade.


Nascida em Belém do Pará, com uma família que gosta no máximo de acompanhar a escolha do samba e assistir aos desfiles, mas não participa ativamente.


Inicialmente Cléa participava na Viradouro como Passista, depois foi alçada para Destaque da agremiação, isto até 1991. Retornou como Passista, depois como Presidente da Ala das Passistas, Presidente da Ala das Crianças e como Destaque. Um dia tomou coragem e pediu ao vitorioso carnavalesco Max Lopes para atuar junto com sua mãe, que era Presidente da Ala das Baianas. Ele sugeriu a função de Diretora de Harmonia da Ala das Baianas que foi prontamente aceito o pedido. Ficou nessa função até 2005.


Com a morte de Monassa, assume a presidência da Viradouro Marco Lira, e a mãe da Clea, a qual denomina-se Tia Linda, pede afastamento por já estar cansada e faz a indicação da filha Cléa, apresentando todos os seus préstimos à agremiação nos corridos vinte e cinco anos. Marco Lira faz uma reunião com a Ala das Baianas que aceitam a mudança. Assume então a Tia Cléa à Presidência da Alas das Baianas do Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Viradouro, onde permanece até a presente data.


Nesta caminhada orgulhosa, de Mãe para Filha, na Ala das Baianas, ganha diversas honrarias e premiações, dentre elas: Dois Estandartes de Ouro, Sambanet, Tamborim de Ouro e dois campeonatos.


Tia Cléa define suas Baianas como Mulheres Guerreiras e de muita força. A Viradouro é sua casa, sua paixão. É onde ela se sente bem. Gosta da quadra e dos movimentos que lá acontecem. Trabalhou muitos anos no Barracão, lembrando que na época de Monassa passava a semana inteira sem ir em casa, que morava no Barracão. Isso muito lhe orgulha. Apaixonada pela mãe, Tia Linda, lembra que ela também trabalhou no Barracão juntamente com suas amigas tia Nilza e Cleonice.


Antes da criação da Cidade do Samba, o barracão era perto do edifício Balança mais não Cai, local que não era muito confortável e assim dispendia um esforço muito maior. Após a mudança para a cidade do Samba ela ainda trabalhou no novo Barracão na costura como “Acabadeira” com o presidente que assumiu após a morte de Monassa, Marco Lira, em todo o seu mandato.


Considera que os ensaios devem ser levados com seriedade, que devem treinar exaustivamente para não errar. Perguntada pelo qual motivo de as rodadas das Baianas primeiro para o lado direito e depois invertendo, informou que foi sua criação, da Tia Clea, para criar uma harmonização e causar um efeito visual. Essa medida, que era exclusiva das Baianas da Viradouro, vem sendo adotada por outras agremiações. Parecia que “As Baianas tinham carrinhos nos pés” - exclama Tia Cléa.


Outro detalhe é a continuidade das Baianas com pouquíssima renovação. Revela Tia Cléa que as baianas da ala são as mesmas do tempo de sua mãe e da outra responsável pela ala, Tia Nilze. Oitenta por cento das integrantes da Ala das Baianas são remanescentes da gestão da Tia Linda, conhecem a escola, como ela funciona, quais são as regras. Uma grande unidade! Todas Baianas no domingo na Amaral Peixoto unidas.


Ela se orgulha muito em ter ocupado diversas funções na Viradouro, só faltando Compositor, Porta Bandeira e Bateria. Ela acredita que dessas só consegue chegar na Velha Guarda.


O luxo e a Comunidade forte fazem parte do espetáculo, o que a torna grande. A Viradouro é reconhecida como um “grande chão” e atualmente tem recebido condições para que se faça um trabalho de ponta. Chama a atenção para a força de todos os segmentos da agremiação, de uma escola com energia boa, de laços familiares e que o futuro está sendo construído com a Ala das Crianças, dos Adolescentes, dos Passistas Mirins, onde vê extrema beleza.


Uma paixão que reflete e ultrapassa gerações. Não há como não brindar o amor à Viradouro passado de Mãe para Filha, de Tia Linda para Tia Cléa. Uma história construída no dia a dia por mais de meio século, com comprometimento e extremo reconhecimento.

Oswaldo Mendes é engenheiro.




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