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Foto do escritorJornal Daki

Monjolos é pau pra toda obra - por Erick Bernardes



Dia desses, entrando em certa rua do distrito de Monjolos, no intuito de visitar um amigo das antigas, duas lembranças cavoucaram esse terreno fértil chamado memória. O primeiro e mais terno foi o casamento desse mesmo amigo na igreja de Sant'ana e São Joaquim; a outra recordação, mais didática e impertinente, provinha de certo livro que dizia ser o tal Monjolo uma árvore medicinal e frondosa.


Pois bem, nesse ir e voltar da lembrança com relação à origem do nome Monjolos, juro que a história da planta que dá nome ao distrito me confundiu outra vez. Impossível não confundir. Quando eu era criança, vovô narrou sobre o lugar cujos arredores se caracterizavam pelas muitas olarias ou fornos mais complexos de fabricação de tijolos e telhas coloniais, nos quais suas massas de argila (matéria prima de produção) recebiam intensas pancadas ou sovas de um instrumento de igual nome: monjolo. Sim, incrível que em vez de esclarecer vêm os malditos livros para confundir ainda mais. O monjolo, na minha inocente concepção, constituía um tipo de instrumento de madeira usado para amassar barro de fazer tijolo; o que mais corriqueiramente referem como moinho de queda d'água. Seria daqueles moedores mais portugueses e poéticos movidos à corrente de rio, tal qual as moendas simpáticas dos romances de Eça de Queirós. Mas não, a explicação não funciona assim. Um livro se sobrepõe a outro, nos romances do genial português sou convencido de que tudo não passa de ficção. Monjolos, em sua definição sincera, é árvore de 20 m cujo tronco chega a medir 60 cm de diâmetro. Pertence à família Fabaceae, o mesmo parentesco com outros lugares, quer dizer, com outras plantas: Maricá, Jatobá e Ingá. Pois é, mais cidades e municípios com nomenclatura de planta só pra confundir o cristão. E por falar em cristandade, dizem que a igreja de São Joaquim e Sant'ana fora construída com madeira de monjoleira, árvore abundante e fácil de talhar. Daí ser coerente afirmar que André casou bonito e feliz no altar de pau de Monjolo. Belas fotos dele com a esposa decidiu me mostrar para relembrarmos juntos. Casal lindo e feliz, sim, sorriam para o fotógrafo. “Precisava ver você, meu amigo, no dia do ‘sim’ a gota de lágrima dançando teimosa sob a pálpebra cansada, devido aos preparativos da cerimônia. Emocionadíssimo momento, divino”.

Bem, deixemos de lado a querela sobre a origem do distrito de Monjolos e fiquemos com a versão mais didática. Pois, se eu juntar a justificativa do moinho hidráulico movendo a maquinaria onde tijolos seriam fabricados com a árvores de mesmo nome, ah! Isso sim seria contação de histórias. Melhor esquecer tudo e pensar em outras coisas mais produtivas. Sobre o casamento do André? Paramos de conversar, porque chegou a hora o almoço. Salve, salve, meu São Joaquim!


>>> Publicado originalmente em 28/4/2019.


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Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.


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