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Evasão escolar: um debate necessário

Por Hélida Gmeiner Matta

Foto: Cenpec/José Alves
Foto: Cenpec/José Alves

Pesquisa recente da Fundação Getúlio Vargas (FGV) apresenta preocupante constatação acerca da evasão escolar - e no suposto atraso no aprendizado que dela se acarreta - observada durante a pandemia, na qual estamos mergulhados ainda e sem previsão concreta de sairmos dela.


Estudos como esse da FGV são necessários e pertinentes se acompanhados com o devido aprofundamento crítico, visão pluralizada e reflexiva sobre o assunto. É sobre isso que gostaria de contribuir com o artigo que segue.


Tomar como fonte os números até 2019 para buscar conclusões sobre a evasão atual é uma incoerência. Ainda que a gente compreenda e insista em compreender a escolarização pelo modelo usado antes da pandemia, é preciso admitir a diferença gritante entre a realidade atual e a de 2019.


Para começar, de que evasão exatamente estamos falando? As escolas que retornaram o fizeram de acordo com a normalidade de 2019? Não, certo?! Foi uma outra realidade em que se adotou rodízios das turmas em muitas unidades a partir do segundo semestre. Tudo isso em meio a um debate confuso sobre a segurança desse retorno, o que é óbvio assusta muitos responsáveis.



Foram mais de 18 meses em meio a uma crise econômica sem precedentes e com um desemprego que obrigou novos arranjos de sobrevivência das famílias. Isso sem abordar a questão da falta de acesso ao ensino remoto, que “apagou” a escolarização para uma maioria avassaladora das crianças das redes públicas.


Me pergunto se diante dessa realidade, a comparação numérica encontra legitimidade...


Outro aspecto que me inquieta muito, no debate sendo feito pelas Fundações e governos Brasil afora se dá na perspectiva de um tal “atraso”. Em um mundo em óbvia (e necessária) transformação, em que mesmo a estrutura pseudo-eficiente do capital está abalada, há alguma métrica que tenha condições de estabelecer parâmetros condizentes com essa realidade, ou mais uma vez, estamos requentado a perspectiva de antes da pandemia?


O interessante nesse debate é que muito se afirmou e se afirma que o mundo nunca mais será o mesmo. Mas, ainda assim, se insiste nesse “atraso”. Penso ser momento de repensar nossos estudantes e suas potencialidades, pensar os espaços físicos e seus aspectos positivos, mas também, nem tanto. Reconhecer que o modelo de escolarização já estava mais que obsoleto e precisamos de um vírus para nos colocar na parede.


No mais, penso que atrasado é quem insiste em comparar realidades diferentes.


Hélida Gmeiner Matta é professora da Educação Básica da rede pública. Pedagoga, Especialista em alfabetização dos alunos das classes populares e Mestre em Educação em Processos Formativos e Desigualdades Sociais.

 

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