Felipe Filósofo: Uma vida de afetos em forma de Arte, por Oswaldo Mendes
- Jornal Daki
- 17 de jun. de 2020
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Nascido em Jurujuba e morador de Rio do Ouro. Filho de Seresteiro, Darcy, o qual entre os mais sublimes acordes conheceu sua amada, Luzia. Nascido em 1981, exatamente em 28 de março, torcedor do Flamengo. Professor por essência e seu nome artístico veio antes de entrar na Faculdade. Com formação em Filosofia, Mestrado e também defendeu sua tese tornando-se assim Doutor em Filosofia.
A herança das serestas o acompanha numa junção com o samba de breque. A fineza, sutileza e toque nos pequenos detalhes é sempre buscado.
Desde muito cedo acompanhava a Viradouro, alguns blocos e também versava em Partidos Altos. Como base teórica, herança musical, ele cita Zeca Pagodinho, Aniceto, Candeia, Bezerra da Silva, Moreira da Silva, Jorge Veiga, Dicró, Geraldo Babão, Padeirinho, Xangó da Mangueira, Noel Rosa, Wilson Batista, Ismael, Martinho e o modo de cantar de Mário Reis. Essas são as influências mais marcantes na formação do Felipe Filósofo.
Com muitas composições de samba dolente, nas quais teve início sua carreira e assim prossegue criando e produzindo partido alto e também sambas-enredo.
Participava como assistente dos carnavais em Rio do Ouro, os quais eram muito concorridos. Num concurso do Bloco do Barril, ainda muito pequeno, fez sua iniciação como Compositor de Samba.
E num sorteio da ordem de apresentação de samba concorrente onde o Felipe não estava presente quando foi chamado e tinham que colocar uma identificação no samba e o cantor. Os partícipes já sabiam que seu primeiro nome era Felipe e que também só vivia falando em Filosofia. Pronto! Nasceu assim o Felipe Filósofo. Batizado no carnaval, nas ruas, no “Mundo da Vida” e exatamente nesta área de conhecimento foi onde, posteriormente, chegou a titulação acadêmica de Doutor – Doctor of Science – D. Sc.
Participou e ganhou em diversos concursos de blocos, muitos na Região Oceânica, no Caxiblema – que desde 2005 tem a honra de fazer seu samba e recebe do autor um grande apreço e carinho, Bloco do Barril, Nem muda nem sai de cima e Lira da Minerva, dentre outros.
Participou dos Projeto Porto do Samba e participa do Projeto Samba na Fonte – do qual atualmente é membro e que acontece no Botequim Vaca Atolada, na Lapa, o qual são apresentadas músicas inéditas. Tem mais de trezentos e cinquenta sambas e muitos poemas.
Já desfilava na Viradouro desde 1987 e, com a experiência de blocos fez uma parceria com Feijão do Rio do Ouro e concorreu samba pela primeira vez na escola, em 2003, de onde nunca saiu nem deixou de apresentar sambas-concorrentes, declarando a agremiação seu grande amor.
“O sentimento que tenho pela Viradouro é como se fosse parte de minha alma. Muito forte. Uma avalanche de emoções. Quando entra na avenida, quando tem um ensaio, O símbolo. Tenho uma experiência meio mística quando fico contemplando o símbolo da Viradouro. Produz um prazer n’alma muito grande. O símbolo da Viradouro é muito forte: um aperto de mãos. A união. O símbolo da Viradouro significa uma das mais importantes mensagens que o Mundo precisa hoje. É a união. Unidos da Viradouro”. Cita Felipe, claramente emocionado.
De 2010 a 2019 participou de todas as finais. Lembra da comoção da primeira final e relembra seu vizinho e amigo, o qual já compuseram juntos, o grande intérprete Nêgo. Na Viradouro foi campeão em 2012, 2016 e 2017 e na Sossego sagrou-se campeão em 2012, 2013, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019, com diversas inovações apresentadas, como: samba sem verso, samba sem rima Veja o vídeo de 2016:
Felipe vê o samba como “o desabrochar da vida em forma de verso e poesia” e Escola de Samba como um corpo onde todos os segmentos são órgãos, logo, vitais. A continuidade, a existência desse ser vivo, tendo carinho e relação afetiva singela e verdadeira com todos, eu faço parte desse corpo. A atmosfera poética desse corpo, que se encontra em todos os segmentos é como se fosse a alma. Gera vida. Produz e movimenta a vida e a Escola é nosso corpo, nossa vida. Nossa Escola de Samba é uma Escola da Vida.
Tudo em prol do bem, da beleza e do amor, conforme Platão. Ternura, esperança, amor, paixão, o medo da perda e outros sentimentos Humanos. A demora da arte se livrar da razão, isto no século XVIII, passando a imaginação a tomar conta do processo criativo. A criação e a imaginação estão intrinsecamente ligadas, sendo inovar a palavra de ordem do Artista.
O primeiro samba da história, em forma de diálogo, está em seu currículo no ano de 2017 e também o segundo samba sem rima, em 2016. O primeiro samba sem rima foi o de Martinho da Vila, em 1987. Inovações com fundamento e forte arcabouço de estudo teórico aplicado. A parceria é fundamental. Criar é preciso!
O samba tem filosofia e se pode aprender muito com as letras de samba. O ambiente fica mais didático, lúdico, alegre, purifica o ambiente e aumenta a vontade de aprender, afirma Felipe, que também utiliza essa técnica para repassar conhecimento. “Nós temos nossos filósofos que foram grandes compositores, sambistas e poetas”, cita o Compositor.
Uma forma de renovação do samba são os Concursos de Samba de Quadra, assim como Rodas de Samba, onde o Compositor possa mostrar sua música e sua obra, isso é muito importante.
Esse é nosso Felipe! Esse é nosso Filósofo!

Oswaldo Mendes é engenheiro.

