COISA RUIM
- Jornal Daki
- há 1 dia
- 2 min de leitura
Por Paulinho Freitas

Alex Ignacio de Loyola, mais conhecido como “Coisa Ruim”. O apelido vem desde antes de ele nascer. A mãe enjoava até quando tomava água. Aos seis meses de gravidez ela chorava de dor. Quando não estava chutando a barriga, estava arranhando as paredes do útero como um gato. Parecia que ele mesmo faria sua cesariana.
A noite em que ele nasceu foi terrível. Chovia, relampejava, parecia que o céu estava caindo. Faltou luz e a família rezava para que o tempo acalmasse. Não tinha como sair de casa com aquele temporal. A mãe gritava de dor, dava pena. Meia noite em ponto com um grito de dor que acordou a vizinhança inteira, “Coisa Ruim veio ao mundo. Sem dar um pio, olhos arregalados para um novo mundo. Assim que ele nasceu a luz voltou, a chuva parou, o silêncio se fez.
A mãe vivia com os peitos em frangalhos, quando ele mamava, parecia que iria arrancar-lhe as tetas, o neném era “Coisa Ruim” mesmo. A avó ainda tentou chamar-lhe de Lelec de vovó, mas foi por pouco tempo. Toda vez que ela o pegava no colo ele cuspia no rosto dela, urinava, se cagava todo e passava a merda nela.
Cresceu sem amigos, pois sempre pegava alguma coisa de alguém e punha a culpa em outra pessoa. Daí para as drogas foi um pulo.
“Coisa Ruim” estava num bar na subida de uma comunidade gonçalense, um carro passou, vários tiros disparados, Maria José ouviu os estampidos e se abaixou. Quando o barulho cessou, procurou o marido, apenas um mês de casados, saíram para comprar um refrigerante para o almoço, lá estava ele, deitado, numa poça de sangue, uma única bala, lá se foram os planos, as promessas, o futuro. Tudo acabado.
“Coisa Ruim” levou treze tiros, foi para o hospital, sofreu várias cirurgias, depois de alguns meses saiu numa cadeira de rodas, paraplégico.
Mesmo deficiente, continuou assaltando e traficando no pé do morro, não escapava ninguém.
Numa sexta feira da paixão, uma Veraneio cinza, temida por todos da cidade, passou e deu-lhe mais uma saraivada de tiros. Novamente internado, novas cirurgias e novamente na rua. Desta vez, além de paraplégico, ficou sem um rim e com o braço esquerdo sem movimento. Passou a esmolar e a surrupiar tudo o que estivesse fácil de pegar e esconder na mochila e embaixo do corpo.
“Coisa Ruim” morreu na pandemia, aos quase setenta anos, de COVID 19. Se tivesse tomado vacina ao invés de Cloroquina, como sugeriam-lhe alguns, estaria vivo até hoje. Ele era “Coisa Ruim “ mesmo.
Obs: Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou fatos, é mera coincidência.
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor
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