Você sabe ler?
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Você sabe ler?

Por Odimar Junior

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Você sabe ler? Mas que pergunta! Se você está lendo esse texto, é óbvio que sabe ler, certo? Será? A questão que proponho aqui vai além da simples habilidade de decodificar letras, formar palavras e entender frases. Ler, verdadeiramente, é muito mais do que isso.


Ler não é apenas reconhecer os símbolos da escrita de uma língua, tampouco se limita aos textos impressos ou digitais. Ler é compreender os sinais do cotidiano, os gestos, os silêncios, as entrelinhas da vida. É perceber o que está por trás das palavras, aquilo que não se diz, mas que está ali, presente, construindo sentidos e orientando nossas percepções. Nesse sentido mais amplo, arrisco dizer que a maioria da população brasileira — e talvez mundial — ainda não aprendeu a ler.


Ler é colher, é apanhar de forma crítica e inteligente os significados que se escondem nos discursos. É saber selecionar o que é relevante, o que merece atenção, o que deve ser questionado. Mas, infelizmente, nem sempre estamos preparados emocionalmente para isso. Muitas vezes, nossas emoções nos impedem de interpretar os textos (todas as formas de textos) de forma clara. E como se isso não bastasse, vivemos mergulhados em uma enxurrada de informações, entregues a algoritmos que nos servem conteúdos prontos, cuidadosamente pensados para agradar e convencer. Absorvemos tudo com gosto, apreciamos com prazer, e ainda repassamos com entusiasmo, sem o menor filtro ou reflexão.


A verdade é dura: talvez você não saiba ler. Pelo menos, não como deveria. Você talvez não saiba ler o mundo à sua volta. Não sabe ler as intenções por trás das palavras. Muitas vezes, sequer procura saber quem escreveu o que você está lendo, com qual propósito, com quais interesses. Simplesmente aceita, consome e compartilha.


Ler exige pausa, atenção e um constante questionamento. É mais do que absorver palavras: é confrontá-las, é desconfiar do que parece óbvio; é resistir à tentação das respostas fáceis, dos discursos prontos, das certezas confortáveis. É mais do que repetir frases feitas; é investigar suas origens, questionar seus usos, refletir sobre seus efeitos. E isso dá trabalho. Pensar dá trabalho. E por isso tanta gente prefere continuar lendo apenas aquilo que confirma suas crenças, fechando os olhos para tudo o que desafia o que já se acredita saber.


A leitura crítica é um dever trabalhoso de quem quer ser livre. Em um mundo saturado por ruídos, distrações e estímulos rasos, resistir ao fascínio do que se recebe pronto e ornado se torna não apenas um desafio, mas uma necessidade urgente. Quem não sabe ler torna-se presa fácil para a manipulação, para as fake news, para os discursos de ódio disfarçados de opinião, para promessas vazias embaladas em palavras bonitas.


É preciso aprender a ler os contextos, as intenções, os interesses por trás de cada narrativa. É necessário desenvolver um olhar atento e questionador. Como disse certa vez um sábio, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Ler, portanto, é interpretar o mundo, é buscar compreender as relações de poder, os jogos de influência, os mecanismos que moldam nossas percepções e nossas decisões.


No fundo, o que está em jogo não é apenas a sua capacidade de juntar letras, mas, como dito, é a sua liberdade. Quem não sabe ler o mundo está condenado a ser manipulado, a viver à mercê de quem domina a linguagem. E, sem liberdade, não há leitura verdadeira. Sem leitura crítica, não há cidadania plena. Então eu pergunto novamente: você sabe ler?


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Odimar Junior, maratonista amador e que deseja continuar correndo por muitos anos, a menos que o joelho impeça.

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