Acho que te vi no meu sonho
- Jornal Daki

- 15 de jun
- 2 min de leitura
Por D.Freitas

Eu te vi na areia negra de alguma praia que certamente não fica no Brasil. Te vi e senti inveja do vento que acariciava seu cabelo no mesmo ritmo em que as ondas se quebravam formando um véu de espuma que cobria vagarosamente seus dedos, peitos do pé e tornozelo. A ponta da sua saia também era beijada pela água e ao recuo do mar ela se fundia a maré naquela dança espetacular.
Me perguntava como você suportava aquele frio. Talvez faça parte da sua convivência constante com aquele clima e pra você aquilo fosse o verão. Enquanto te via, tentava aquecer meus braços com fricção, porque pra mim aquilo era certamente o mais rigoroso inverno.
Te vi virar aos poucos para olhar em minha direção e o Sol cresceu no meu peito a ponto de fazer a ponta dos meus dedos suarem. Pela distância não consegui ver seu rosto, mas imaginei os fios do seu cabelo chicoteando o ar e cobrindo seu rosto levemente como um véu. Meus lábios rachados pelo clima desejaram encontrar os seus mesmo estando tão longe. Meu corpo certamente faria o sacrifício de descer por toda aquela encosta como se eu fosse um alpinista habilidoso. Já não havia mais tanto frio assim quando terminou de se virar em minha direção. Com os passos mágicos e rápidos que dei ao descer pelas pedras, rapidamente cheguei até a areia. Comecei a moldar seu rosto em minha memória para que eu nunca esquecesse: Os lábios estreitos, as maçãs levemente saltadas, os poros do pescoço arrepiados...
Até o véu da maré cobrir meus pés. Tão gelado que me fez acordar.
Não é ela quem repousa ao meu lado na cama. Não é frio que toca meu peito nu ao levantar. Não escuto o som do vento ou do mar, apenas o ranger de um ventilador não tão novo assim.
Dizem que os sonhos são réplicas do que vivemos ou almejamos viver. Outros dizem que são como uma sopa de coisas que nosso cérebro captou durante um tempo e roteirizou de forma porca para nos apresentar como um filme toda vez em que fechamos os olhos.
Tento lembrar quando e como meus olhos a encontraram nessa rotina louca.
Penso no que eu diria caso eu a encontrasse de novo.
-Acho que te vi no meu sonho.
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Davi Freitas (D.Freitas) nasceu em São Gonçalo, cria da cultura gonçalense, desde sempre conviveu com músicos, poetas e escritores. autodidata, aprendeu violão e bateria sozinho e junto com o irmão Lucas Freitas fez algumas apresentações até ter, por motivos profissionais, que mudar de estado. Como escritor, participou, pela Editora Apologia Brasil da Antologia em Tempos Pandêmicos e inicia agora sua trajetória no mundo das crônicas e contos.













































































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