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Bebês reborn: carência, doença ou brincadeira?

Por Rofa Araújo 

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A nova febre que se espalhou, pelo menos aqui no Brasil, é a de “criar um bebê reborn”. E criar, adotar ou cuidar praticamente como se fosse verdade, mesmo se tratando de uma boneca inanimada.


Já surgiram os mais hilários memes pelas redes sociais e histórias, vídeos ou charges como se fosse algo que mais parece inventado, mas, em alguns casos, aconteceram mesmo no mundo real.


Uma “bebê reborn” dessa custa entre 800 e 10 mil reais, pasmem a todos nós. E muitos a compram como se estivessem “comprando um brinquedo”, mas que, para eles, são como um filho ou uma filha.



Segundo uma reportagem no site da BBC, a psicóloga Daniela Bittar, especialista em luto perinatal, explica que ainda não é possível afirmar se há, de fato, um aumento no número de pessoas com algum tipo de disfunção afetiva – projetando sentimentos e atribuindo significados às bonecas além do que seria considerado saudável – ou se o fenômeno reflete apenas uma tendência de consumo.


Bittar analisou: “Esses bebês reborn, apesar de trazerem a sensação sensorial de um bebê, eles não se relacionam de volta. A relação só tem uma via”. Assim, deve ser fácil, pois esses bebês não falam, não ouvem, não choram, não gritam, não respondem a nada. Tudo que muito pais reclamam e até se arrependem em relação a ter um filho quando o atrapalham ou o deixam loucos por não saberem lidar com a criança que tiveram. 


A psicóloga complementa: “Quando me relaciono com uma forma não humana, eu estou no controle. Posso projetar amor, posso evitar a rejeição. Crio uma ilusão. Um cenário fantasia em que finjo, inclusive, que estou sendo amada”. Há uma manipulação de algo que mesmo sendo físico não é real, mas que há uma situação em que tudo está montado como se fosse realmente algo que exista em sua vida.


Seria uma falta de vontade ou coragem de encarar uma maternidade ou paternidade pelas vias normais ou mesmo de adotar uma criança, caso não se possa ou queira passar pela gestação de nove meses? Dessa forma vai na loja e se compra um “bebê reborn” e tudo está resolvido. Será mesmo?


Esse neném inanimado não é menos reativo do que um robô? Esse pelo menos iria responder e interagir, coisa que a febre atual dos reborn não podem fazer. Dizem que em outros países como o Japão, a versão é mais real ainda e choram e falam. Imaginem o preço...  


Seria esses “bebês reborn” carência, doença ou brincadeira? Porque sendo carência, não suprem o que de verdade a pessoa precisa nesse relacionamento afetivo ente pais e filhos; doença seria já um estágio bem avançado pela loucura que é possuir um nenê que não se mexe nem faz nada, apenas existe fisicamente; e brincadeira, se apenas fosse o caso, já está passando de todos os limites toleráveis.


A sociedade parece que inventa coisas como essas para suprir o que não consegue na vida real. Andar para lá e para cá com um bebê no colo como se fosse uma criança mesmo, tratando tão bem ou melhor como uma de carne e osso, dando comida (como, se não pode se alimentar?), levando ao médico (como, se quando saber se está doente?) e até mesmo faltando ao serviço para dar mais atenção ao reborn. Algo errado como isso não está certo!


O único caso semelhante que até então aceito era quando se realizada um treinamento para os “pais já grávidos”, realizando uma aula prática de trocar fraldas, dar de mamar etc. Mas, para isso, uma simples boneca bastava. E era por uns instantes e não o projetar numa criança irreal como se realmente fosse seu filho como ocorre como toda essa onda.  


Que essa febre passe logo e todos se voltem para os sentimentos humanos verdadeiros para que tenhamos um mundo melhor, real e não imaginário, supérfluo e superficial.


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Rofa Araujo é jornalista, escritor (cronista, contista e poeta), mestre em Estudos Literários (UERJ), professor, palestrante, filósofo e teólogo. 

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