Ninguém, por Fábio Rodrigo

O indivíduo acordou. Olhou para o lado e não viu sua esposa na cama. Estranhou. No banheiro, ela não estava. Na cozinha, também não. Foi ao quarto dos filhos e viu que eles também não estavam. “Foram para o colégio e nem se despediram de mim?”, pensou. Tomou o café e se arrumou para ir ao trabalho. Deu uma olhada no celular e, pra sua surpresa, não havia uma única mensagem. Ninguém on line.

No estacionamento, achou estranho somente a presença de seu carro. Saiu e cumprimentou o porteiro. Só então se deu conta de que ele não estava na portaria. Ao passar pelo portão do prédio, notou que não havia ninguém nas ruas. Já eram oito da manhã e não havia um único estabelecimento aberto. No ponto do ônibus, ninguém à espera. Aliás, nenhum ônibus circulava. Nem táxi, nem van. Carro nenhum na rua. Somente ele, o indivíduo, conduzia solitário o seu Volkswagen na principal avenida da cidade. Parou no primeiro sinal. Não havia nenhum pedestre para atravessar e nenhum vendedor ambulante. Não havia ninguém.

Chegou ao prédio de sua empresa. O estacionamento completamente vazio. Podia escolher qualquer vaga para deixar seu carro. No saguão do prédio, ninguém. Subiu sozinho o elevador. Ao chegar ao andar da empresa, não havia ninguém na recepção. Abriu a porta do departamento financeiro e ninguém. Abriu a porta do setor de vendas e ninguém. No refeitório, ninguém. “Ninguém veio trabalhar? Isso não pode ser verdade.”, pensou.

O indivíduo não entendia o que estava acontecendo. Tentou telefonar para cada um de seus colegas de trabalho e ninguém atendia a ligação. Já completamente baratinado com tudo aquilo, foi até o banheiro. Lavou o rosto para se certificar de que não estava sonhando. Não poderia estar acontecendo aquilo. Secou o rosto e, em seguida, tomou um grande susto. Nem a sua própria imagem refletia no espelho. Não havia ninguém.

Fábio Rodrigo Gomes da Costa é professor e mestre em Estudos Linguísticos.