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O pré-candidato a prefeito sem propostas, por Mário Lima Jr.


Arte Divulgação Sindspef-SG
Arte Divulgação Sindspef-SG

Membro do Sindicato dos Servidores Públicos Efetivos de São Gonçalo (Sindspef-SG), o mediador da entrevista pediu ao pré-candidato a prefeito da cidade que se apresentasse. Parecia o salvador do povo, político quando fala de si mesmo sente um prazer que a gente percebe de longe, até quando a entrevista é online.


– Tudo bem, pré-candidato, meu entendimento é que o senhor já terminou sua apresentação, vamos para a primeira pergunta – o mediador perdeu a paciência antes da entrevista começar.


O servidor público é uma figura importante em qualquer administração, ele toca o barco, faz a roda girar, conduz o time pra frente, nada mais junto do que compreender como o possível prefeito enxerga a classe e seus planos para ela. O mediador perguntou:


– O senhor tem alguma proposta de reforma que reconheça o esforço e o valor do servidor público e permita que ele desempenhe melhor o seu trabalho?


– Dr. Armando, o senhor sabe que sou amigo do presidente do Sindspef-SG, nosso saudoso Dr. Eduardo. Eu mesmo sou servidor público de carreira e amo vestir essa farda. Defendo um Estado forte, íntimo do servidor, capaz de resolver os problemas da nossa sociedade.

Se esforçou o pré-candidato para responder a primeira pergunta, que já tinha sido enviada previamente para análise, dias atrás. Não fez diferença dar ao pré-candidato tempo suficiente para pesquisar como outras regiões abordam a questão do serviço público, depois refletir e compor uma estratégia baseada no seu conhecimento técnico e em seus valores como político e ser humano. A agenda do pré-candidato já está lotada há meses, participando de duas lives por dia e respondendo de forma vazia a outros entrevistadores. Além do mais, o principal valor do pré-candidato é a fome de ser eleito dessa vez, ou vai ou racha, candidatura custa caro e ele perdeu a eleição anterior.


– Tudo bem, candidato, como o senhor irá lidar com a questão da desordem urbana, que afeta a cidade inteira? O bairro de Alcântara, por exemplo, é uma potência comercial que pode render ainda mais ao município mas segue abandonado, sujo, fedorento, caótico…


– Exatamente, Dr. Armando! Aquilo é um absurdo. Fico feliz que o senhor tocou nesse assunto. A região de Alcântara tem enorme importância pra São Gonçalo e ninguém faz nada, entra governo, sai governo e a bagunça continua. Muito lixo no chão, camelôs batendo cabeça, o trânsito entrou em colapso.


– Mas o senhor tem algum plano de desenvolvimento da região? Qual é a sua proposta?


– Sendo eleito, meu governo não vai admitir mais essa desordem. Quem já trabalhou comigo sabe que tenho o pulso firme. Vamos criar iniciativas para buscar recursos, abrir o diálogo com os empresários e comerciantes da região, avaliar opções.


Confessa o pré-candidato que pretende fazer depois que for eleito aquilo que já deveria ter realizado há muito tempo, antes de considerar pedir o voto do eleitor. E ninguém, nem o mediador nem o pré-candidato, citou o problema mais grave de Alcântara, os jovens que passam o dia vendendo balas nos sinais de trânsito, as famílias que lutam pra tirar o sustento da caridade de quem circula de carro na rua.


– Infelizmente estamos nos aproximando do final da nossa entrevista, qual mensagem o senhor gostaria de deixar pra quem tá em casa, acompanhando essa live?


– Nós, gonçalenses, não podemos mais errar. Estamos vivendo um ano de crise, mas tenho esperança na cidade. O povo de São Gonçalo é guerreiro e bastante capaz, posso ajudar a população nesse processo de transformação e crescimento municipal.


A entrevista foi encerrada com sorrisos, cumprimentos, elogios e absolutamente nenhuma proposta prática, de eficiência comprovada em São Gonçalo ou qualquer outro lugar.

Mário Lima Jr. é escritor.




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