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Alegrias do futebol infantil no Vila Três - por Mário Lima Jr.


Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Depois de alguns meses, joguei bola na rua com meu filho e algumas crianças no Vila Três. Começamos só nós dois, jogando altinho. Logo um menino e uma menina viram nossa movimentação, e a bola no alto, e correram desde o final da rua pra jogar com a gente.


Com o aumento do grupo, após curto debate decidimos mudar a brincadeira pra golzinho de praia. Tinha esquecido que crianças decidem muito mais rápido do que os adultos, embora levem a sério cada decisão. Perdemos essa habilidade em algum momento da vida.


Duas crianças entraram, sem avisar, no quintal de um amigo vizinho pra pegar as traves dele. Achei incrível, há um acordo entre o dono das traves e as crianças de pelo menos dois quarteirões que autoriza a entrada no quintal em qualquer hora do dia. A família do garoto sabe, a única exigência é deixar as traves sempre no mesmo lugar ao devolver, encostadas no muro nos fundos do quintal.



Mais dois meninos chegaram animadíssimos pra jogar e com isso já havia crianças suficientes para a formação de dois times. Tenho medo de machucar sem querer o filho de alguém, então tentei deixar o local do jogo, o asfalto (no passado tínhamos um campo de várzea, que foi murado). As crianças não deixaram eu sair, insistiram pra eu jogar. Pelo visto não me acham um adulto chato, é bom demais contar com o carinho das crianças do bairro onde cresci.


Quando a disputa pela bola esquentou, a quantidade de palavrões me surpreendeu. Ouvi xingamentos que os adultos que conheço têm vergonha de dizer. Minha presença não inibia a boca de ninguém, eles me viam como um deles, embora me chamassem de “tio”. É maravilhoso que ninguém se sinta ofendido ao ponto de abandonar a brincadeira. O que acontece é a disputa pela bola e pelo palavrão mais criativo. No meio do jogo, começou a chover mais forte.


– Vamos continuar, tio? – me perguntaram ansiosos, quase ao mesmo tempo.


– Vamos – respondi sabendo dos riscos, meu lado criança falou mais alto. Os olhos deles brilharam.


O cocô de cachorro, perto do meio-fio, virou uma pasta escorregadia que pisei algumas vezes. O asfalto molhado ficou perigoso, mas ninguém diminuiu a força da marcação. A bola só parava quando caía embaixo de um carro ou quando era preciso esperar veículos e pedestres passarem. Futebol no meio da rua tem dessas coisas.


Todos bastante cansados, com a roupa ensopada no corpo, resolvemos devolver as traves. Cada criança olhava nos olhos da outra sem arrependimento nenhum, alegres, com a certeza de que em breve jogarão outra vez no mesmo lugar.


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Mário Lima Jr. é escritor.




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