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O Nostradamus do Barro Vermelho



“Bem, eu posso até estar errado, mas...” Sempre inicio minhas profecias tolas com essa frase, porque estar errado é um luxo que me foi imposto desde tenra idade. Sou um futurólogo amador, teimo em projetar para o porvir esperanças que sempre atingem seu malogro – às vezes mais rápido do que eu gostaria. Eu estava errado quando achei que Lourdes seria uma boa namorada, estava errado quando achei que o Guns and Roses seria o Rolling Stones da minha geração, estava errado quando achei que seria Mestre antes dos 30 e Doutor antes dos 40. Minhas previsões, baseadas em sinais fracos emitidos por radares defeituosos, quase nunca se concretizaram, e no futebol não poderia ser diferente. Achei que Sávio seria o novo Zico, que Júlio Chester brilharia na Copa, que o leniente Rivaldo nunca faria sucesso no futebol, que o Brasil ganharia a Copa de 98, de 2006, 2010, 2014...

Tudo bem, eu posso até estar errado – e esse “posso” é no modal de “tenho o direito”, não de “há uma possibilidade” – mas o menino Arthur Maia será um grande ídolo da torcida do Flamengo, um craque como há muito não se vê no futebol brasileiro. Carecemos de ídolos (é só ver os lafranhudos que elencamos para tal cargo), e principalmente: carecemos de meio-campistas talentosos. Chegamos ao estágio das “vacas premiadas” do Nélson (que só tinha um defeito: ser tricolor), onde a força física impera: correm como Hermes, são fortes como Apolo, belos como Adônis e moças como Helena. Altius, citius, fortius e chatus. O futebol – esta velha máquina de endoidecer – hoje favorece a posições onde a força física tem peso dois: laterais ágeis como flechas, atacantes fortes como touros e goleiros flexíveis como o PMDB. Mas cadê o drible? O lance de gênio? O inusitado, o sobrenatural, o “putaqueopariuvocêviuoqueelefez?” Anda meio sumido, como a geral do Maracanã, o cachorro quente sem batata palha e a balzaca sem filhos. Então, na meia cancha do Mais Querido, surge o garoto Arthur Maia. Nome de craque, ousadia de menino, fibra de herói (Viva!).

Arthur Maia é o avatar completo do futebol brasileiro de todas as eras. Raçudo e talentoso, ousado e disciplinado – fominha apenas quando crê. É uma pena, mas folgo dizer que do Galinho pra cá não apareceu mais nenhum desse naipe, o meio-campo que arma a jogada, que tem visão, passe, velocidade e que sabe a hora da caneta e do sprint. O rapaz, vindo do aguerrido porém pouco eficaz América de Natal reúne todas as características sonhadas e reverenciadas pela grande nação rubro-negra. A entrega, a humildade, o passe diferenciado, a batida seca para o fundo do gol. Guardem bem esse nome, pois agora ele se encontra sob as exatas condições de temperatura e pressão em que um craque é forjado: um time enorme, de projeção mundial e pretensões superlativas, embalado por uma torcida que derruba reis e entrona joões. Arthur Maia será um grande ídolo, não só do Flamengo, mas do Brasil, e ainda dará muitas alegrias a essa nação.

Mas vejam bem: eu posso estar errado.

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