A bipolaridade do brasileiro - por Helcio Albano
O jornal O Globo deste domingo (03) divulgou uma pesquisa - baseada em autodeclaração - que mostra o que é óbvio no brasileiro: é conservador. Quando não é escroto mesmo, facilmente observável na vida cotidiana em questões de costumes e de comportmento, que diz muito sobre nossa formação hipócrita-religiosa de herança escravista-colonial que tem pouco a ver se o cara é mais ou menos de direita.
O levantamento traz um dado que assusta, mas não é novidade: 18% da população é reacionária ultrarradical de direita e topa qualquer coisa pra impor sua visão de mundo. Mesmo que para isso role uma ditadura ou mesmo um AI5. É a tal da cadela do fascismo sempre no cio, como dizia o Brecht.
Em temas polêmicos, o brasileiro médio é moralista, encarna o punitivismo, é dado a legislar sobre o corpo alheio e quer militarizar a escola. No centro-oeste, capital do bozoquistão e do agronegócio, 68% apoiam entregar a educação dos seus filhos aos milicos da PM, Bombeiros ou FA's. É o selo de fracasso do Brasil enquanto civilização.
A pesquisa foi realizada por gente ligada à UFMG, Unicamp, UnB e Uerj, e procurou levantar assuntos voltados a pautas sociais e morais, como legalização do aborto, maioridade penal e casamento gay. Não foram abordados temas ligados à economia, como feito pelo Datafolha em maio, que identificou 49% da população como de esquerda, ante 34% como de direita.
O brasileiro é de esquerda na economia e de direita nos costumes. Isso explica muita coisa.
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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.
