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COP30 e as periferias urbanas: diálogo necessário

Por Lourdes Brazil

Reprodução
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Em novembro teremos mais uma edição da COP, cujo significado em português é Conferência das Partes. É uma reunião anual de países que assinaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.


Será em Manaus e contará com a presença de chefes de Estado e representantes da sociedade civil.


Os debates vêm ocorrendo em diversos espaços com distintos atores.


Temas como adaptação, mitigação, transição energética, são debatidos em universidades, institutos de pesquisas, grandes empresas, com a participação de especialistas, que desenham possíveis soluções, baseadas em pesquisas, muitas a partir de cenários distantes.

Para que tais debates construam contribuições significativas é preciso que sejam incorporadas outras vozes e outros territórios.


As vozes, são as das mulheres e os territórios, as periferias urbanas.


Isso porque as mulheres são grandenente afetadas no cenário de vulnerabilidade que se estabelece com enchentes, desabamentos e ondas de calor.


Vamos iniciar falando das periferias e como surgiram. Vamos mostrar como se deu sua evolução ao longo do tempo.


Tudo começou nos anos 60/70. Pouco a pouco as periferias foram se formando: Baixada Fluminense, Zona Oeste e São Gonçalo recebiam famílias desalojadas das favelas destruidas no centro do Rio de Janeiro e outras, nordestinas, atraídas por empregos na construção civil no RJ.


Nesses locais terrenos espaçosos eram comprados e casas eram construídas. Simples com paredes de tijolos, janelas de madeiras e cobertas com telhas de barro. Em meio a árvores frutiferas: goiabeiras. Mangueiras. Cajueiros, abacateiros as casas ofereciam abrigo e proteção do sol, vento e chuva para as familias. Naqueles tempos os verões eram marcados por dias ensolarados que findavam com uma chuva forte acompanhada de raios, relâmpagos e trovões, mas que logo passavam, deixando um cenário de beleza e alegrias.


O sol voltava com um belo arco iris, tanajuras voavam, sendo caçadas pelos meninos

E o mais especial era o caminho de águas que corria pelas ruas de chão e iam desaguar no riachinho pequeno, mas imponente, com águas límpidas e que compatilhavam seu leito com outras águas, sem disputas ou transbordamento.


Seguiam seu rumo para outros rios em perfeita harmonia até que as mudanças começaram a acontecer.


Os anos 80/90 chegaram e com eles as periferias cresceram também. Famílias novas e famílias antigas que se multiplicaram e encheram os quintais de novas moradias.


Os telhados já não eram de telha de barro, mas sim de laje.


As árvores frutíferas desapareceram. Não sobrou nenhuma. O quintal que abrigava um casa, agora eram 4, 5 e até mais.


Em lugar da terra batida, concreto.


As novas famílias, que não podiam fazer um puxadinho, davam um jeito de arrumar um local, que podia ser: uma lagoa aterrada, beirada das estradas, encostas e ... na margem dos riachos.


Por uma série de razões os dias agradáveis de verão se transformaram. Temperaturas cada vez mais intensas assustavam.


Porém o mais assustador eram as chuvas.


Chegavam com uma intensidade e despejavam de uma única vez o que deveria levar dias.

Se instalavam dentro das casas, dos quintais e nas ruas.


Corriam para o rio e expulsavam todos que estavam em suas proximidades, com violência e fúria.


Ao final, que podia demorar horas e até dias não havia mais arco-íris nem tanajuras. Só destruição e lamento.


O que aconteceu?


O que está acontecendo? Se perguntavam, sem terem respostas.


As respostas começaram a chegar de uma forma confusa, com palavras que quase ninguem sabia o significado: alterações climáticas, aquecimento global e muitas outras. A

partir dos anos 2000 a situação se tornou mais tensa As periferias se multiplicaram, espalhando-se por locais inesperados: encostas acima, vales, manguezais e quase dentro dos rios ou outros locais que colocavam vidas em risco devido às emergências climáticas.

Sim era isso que estava acontecendo: secas, enchentes, aquecimento dos oceanos, chuvas intensas...e as as ondas de calor. Essa última marcou muitas periferias, sem contudo merecer a devida atenção.


Nos últimos verões em alguns locais os termômetros marcavam 38, mas parecia ser 50 graus, causando doenças e sofrimento.


Situação agravada devido às casas serem apertadas, sem ventilação e falta de vegetação no quintal ou no bairro.


Os poucos espaços de vegetação eram destruídos para a construção de mais casas para abrigar pessoas que chegavam para "viver" e muitas vezes encontravam a morte.


Sabemos que as emergências climáticas estão assolando muitos territórios e todos merecem atenção, contudo as periferias e as menifestações climáticas que nelas ocorrem precisam ser discutidas.


Porém um dos aspectos que precisa ser amplamente debatido é o crescimento das periferias e o impacto na vida das mulheres que nelas vivem.


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Lourdes Brazil - Centro Gênesis, UFF/ PPBI, Universidade Veracruzana México

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