Persuasão
- Jornal Daki
- há 4 dias
- 2 min de leitura
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Por Paulinho Freitas

O sol ainda espreguiçava com os ombros apoiados no prédio atrás de casa e eu rolava na cama, fazendo aquela preguicinha matinal antes de levantar para ir pro sofá ver o jornal da manhã, quando bateram palmas no portão. Eram as testemunhas que nada viram, mas que tudo falam. Toda semana é a mesma coisa, ficam de casa em casa pondo folhetos com passagens bíblicas e tentam de todas as formas te convencer a também testemunhar o acontecido que aconteceu antes de nascermos, por tanto, nada vimos.
Vou com muita preguiça até o portão e apesar de ser um quase ateu aviso logo, antes do bom dia, que sou espírita e só aceito conversar se eu também puder falar dos guias e orixás. Eles ficam meio sem graça, mesmo assim me abençoam e vão bater em outro portão.
Antes de voltar para o meu sossego, dou uma olhada para a casa do vizinho, do outro lado da rua. Meu vizinho ouve atentamente o que um dos religiosos fala. Entrei, tomei meu café e fui ate o portão mais de uma hora depois para dar aquela olhadela na rua e me espantei ao ver que meu vizinho e o religioso ainda conversavam. Dessa vez, meu vizinho é que falava, tinha um sorriso largo e simpático e o religioso prestava bastante atenção no que ele falava. Depois de muita conversa, os dois se abraçaram como velhos amigos, o religioso saiu muito feliz.
A noite, como as vezes faço, fui ao bar do Serginho bater um papo com a rapaziada. Meu querido amigo professor Júlio está de repouso, mas já já volta a ativa. O resto do time estava todo lá, falando dos ausentes e pilhando os presentes com aquelas histórias que nós, eternos alunos de quinta série, não deixamos de inventar. A surpresa foi ver o religioso que pela manhã tentava convencer meu vizinho a seguir sua seita, gargalhando junto com a galera, com uma garrafa de um litro de água mineral nas mãos e suando em bicas. Parece que os argumentos do meu vizinho foram mais convincentes que o dele.
Fiquei um tempo por lá e depois de alguns copos de cerveja e muitos assuntos falados ao mesmo tempo sem que ninguém entendesse nada, saí do bar e ganhei a rua já bem vazia pelo adiantar das horas. A lua já tinha trocado de lugar com o sol e brilhava soberana no centro de um tapete de estrelas. Vim pensando nos argumentos usados por meu vizinho para que aquele homem estivesse lá no bar.
Acho que fez ver a ele que o criador andava com vagabundos, ladrões e prostitutas. Ele ia buscar suas almas na fonte, ao invés de ficar acordando as pessoas na melhor hora de seu sono.
Gargalhei sozinho e segui para casa respirando a alegria de estar vivo e testemunhar tantas histórias.
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor
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