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A Talipot da Rua da Caminhada, por Erick Bernardes


Ela, a palmeira Talipot em todo o seu esplendor/Foto: Eric Bernardes
Ela, a palmeira Talipot em todo o seu esplendor/Foto: Eric Bernardes

Reconheço haver em meu espírito certa mania de visitar a etimologia das coisas. Sim, confesso essa cisma investigativa, hábito adquirido nos tempos das aulas de latim na Faculdade de Formação de Professores da Uerj, a querida FFP, aqui mesmo em SG. Por causa disso, o que em ciência se chama morfologia da palavra veio se emaranhar na morfologia das plantas também. Exato, entre a palavra e a palmeira, o paradigma: preencho o papo com pensamentos provenientes do passado próximo em prol da planta panorâmica.


Talipot é o nome popular da palmeira originária da Ásia. Mais especificamente imigrada do Sri Lanka e da parte Sul da Índia. Isso mesmo, exótica a planta e já virou marca ou referência da rua da caminhada que começa no bairro Camarão. De acordo com a revista on-line Rio de boas notícias: "Após exibir seu colorido, vão surgir cachos enormes de frutos. Eles caem e, logo em seguida, a árvore começa a morrer. É o ciclo da vida!". Viu aí, que coisa mais linda? Oferta de beleza antes de se entregar horizontalmente ao barro.


Quem passa exercitando as pernas pela rua inevitavelmente pratica também a atividade mental tentando adivinhar: como pode uma palmeira na beira da pista ficar florida durante tanto tempo? Não sei, ou melhor, não sabia até que me caiu em mãos um artigo de Botânica Geral. Que maravilha, sabia que já tinha visto aquela planta gigante da foto em algum lugar. E vi mesmo, tantas vezes me deparei com a linda imagem na rua da caminhada onde me exercito com regularidade bissexta. Bingo! É ela, a palmeira Talipot, cientificamente registrada por Umbraculífera ou no popular Palmeira Para-sol.

Decerto com relação ao sobrenome Para-sol da palmeira, o leitor já intuiu. Isso mesmo, folhas enormes a funcionarem como para-sóis ou sombrinhas; as famosas "umbrellas" na língua inglesa. Aliás, mais uma vez o latim veio me socorrer. Sim, exato, e você achando que a palavra inglesa "umbrella" derivava de quê? Surpreso? Pois é: sombrinha = para-sol = umbrella < umbra + culífera. Nada mais lógico quanto a isso. A planta frondosa em questão é mesmo um oásis em meio aos castigos do sol. Verdade, folhas do tamanho de antenas parabólicas ou para-sóis de praia, enormes. Umbra (do latim) e umbrella, no diminutivo da língua da rainha britânica e centenária.


Outro fato interessante decorre de a galera gonçalense, não raro, tomar a referida palmeira como alguma espécie de árvore nativa. Mas não, de jeito nenhum a querida para-sol pertence à nossa flora. De acordo com a matéria da revista Rio de boas notícias, a planta Talipot fora importada inicialmente pelo paisagista Burle Max, lá pelos idos dos anos 80, no intuito de ornamentar o espaço do Aterro do Flamengo. Essa revista só não cita que uma das moradoras locais foi quem decidiu plantar esse mimo por aqui, na esquina da própria casa. Justamente, pois na beira da tal rua da caminhada a Umbraculífera teve outras repercussões.


Está aí, portanto, uma planta tão ou mais famosa do que topônimo gonçalense. A nossa majestosa Talipot, ela mesma, capaz de atingir 60 metros e que é hoje atração na Rua Jaime Figueiredo, pertinho da surpreendentemente vazia agência dos correios.


***


Nota do autor: assista ao vídeo motivador desta crônica, o momento exato de quando decidi homenagear a linda Talipot da rua da caminhada e que já começou a dar frutos. Sinal de que a natureza aponta o iminente fim da planta. Dá tempo de você conhecer a bela e simpática Palmeira Para-sol.

Fontes:


Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.



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