Trabalhadores de Neves se desesperam com ordem de fechamento de trailers pela Prefeitura
Comerciantes que atuam no local há mais de 30 anos foram pegos de surpresa com a decisão e estão desesperados
Por Cláudio Figueiras

A Prefeitura de São Gonçalo, através da subsecretaria de Posturas, ordenou o fechamento imediato dos trailers que funcionam no cruzamento das ruas Ana Soares e Mauricio de Abreu, em Neves.
A notificação, entregue pelos fiscais de Posturas na tarde desta sexta (12) aos comerciantes, dá prazo de 24 horas para cumprimento da ordem da Prefeitura.
Surpresos e desesperados, os trabalhadores procuraram o vereador Prof. Josemar (PSOL), morador do bairro, que foi ao local na manhã deste sábado (13) ouvir pessoalmente e transmitir ao vivo, em vídeo no Facebook, o relato das pessoas:
- É um absurdo tudo isso, que só prova a insensibilidade social desse governo. É covardia que em plena pandemia, onde não tem emprego, cheio de restrição, arranque essas pessoas do seu sustento de mais de 30 anos. Eu mesmo já lanchei e cortei cabelo nesse espaço. Se esse governo se preocupasse com essas pessoas, daria oportunidade para elas se regularizarem. É uma maldade eles fazerem isso em plena sexta-feira. O capitão Nelson prometeu tirar barricada, não tirar trailer de trabalhador - disse Josemar.

Dona Eliane, 66 anos, proprietária de um trailer de refeições há mais de 30 anos no local, foi quem procurou o parlamentar. Ela, que emprega uma funcionária, não sabe o que fazer e nem pra onde ir. Com o pouco da voz que lhe resta, fez um apelo desesperado ao prefeito Nelson Ruas (PL):
- Eu dependo disso aqui. Gasto com remédio mais de R$ 600 e pouco por mês. Eu quero ajuda, capitão Nelson! Não é hora de você fazer o que tá fazendo! A gente precisa de comer. A gente não tem vacina, não tem nada. Ninguém tá fazendo nada. É só levando na cara! Legaliza! Se a gente tiver que pagar licença, a gente paga - desabafou.
Membros da associação de moradores do bairro (AMONEVES) e advogada Amanda Saraiva acompanharam o vereador Prof. Josemar e devem se reunir na tarde de hoje para discutir o assunto com os comerciantes.
- Existe uma grande diferença do que é legal e do que é humano. A nossa Constituição Federal prevê que a gente tem a dignidade da pessoa humana acima de qualquer legislação. A Prefeitura no momento de pandemia não está olhando para a dignidade das pessoas - disse Amanda Saraiva.
A advogada, que é filha e educada por pais comerciantes que também tiveram trailer no bairro, entre os anos 1990 e 2000, lembra que as pessoas querem se regularizar, mas que em nenhum momento isso foi levado em consideração pela Prefeitura:
As pessoas querem ser legalizadas, e a Prefeitura não está oferecendo isso a elas. Pelo contrário. O que estamos vendo aqui é uma mostra de grande insensibilidade do governo. A começar pelo prazo, que poderia ser de 10 ou 15 dias para que as pessoas pudessem recorrer da decisão ou procurar outra solução de garantia do seu sustento - finalizou
Amanda.
A ordem pode ser cumprida a qualquer momento por fiscais da Postura, com caminhão para recolher mercadorias, mobília e retroescavadeira para botar abaixo as construções. Além do trailer de Dona Eliane, no local funcionam ainda barbearia e lava jato.
