Um é bom, dois é bom, três...
- Jornal Daki
- há 11 minutos
- 2 min de leitura
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Por Paulinho Freitas

Foram criados juntos. Gêmeos, (Josué e Abraão) não eram irmãos, mas assim eram chamados por só andarem juntos. Os dois estudavam na mesma escola, na mesma sala. Cúmplices em todas as traquinagens de criança, quase todos os dias iam parar na secretaria e os pais eram chamados. Uma bronca aqui, um castigo ali, esporadicamente, um corte na mesada e vida que segue.
Lá no morro da jaqueira vivia Sidney, filho único de Arlete, lavadeira e mãe solteira, fazia um grande sacrifício para criar o filho, que até a pré-adolescência era um anjo e um excelente aluno. Sempre estudou em escola pública, muito aplicado, tinha sempre as melhores notas.
Num jogo de futebol, no campeonato estudantil conheceu Josué e Abraão, pronto. Estava formado o trio, Gêmeos e mais um. Daí para frente foi só para trás. Os três infernizavam a vida da vizinhança. Furavam pneus dos carros, pegavam roupas no varal, batiam nos menores e por aí vai.
Assim foram crescendo, a adolescência chegou e aquela vontade de aparecer para as meninas aflorou, começaram a aplicar pequenos golpes para ter um dinheiro a mais e logo começaram a passar cheques sem fundos, que pegavam nas caixas de correios sem que ninguém visse. Logo que o cartão de crédito chegou fizeram a festa, de roupas de grife, festas e viagens.
Quando tudo parecia ir de vento em popa a polícia deu o bote. Josué perdeu quase tudo o que conseguiu ilicitamente. Abraão, o mais esperto dos três, entregou os amigos e saiu pela tangente. Não perdeu nada e desapareceu. Para Sidney, sobrou a culpa e o xilindró. Para Arlete, o desgosto e a humilhação de todos os domingos passar pela vexatória revista no presídio.
Passados alguns anos, Josué é empresário no ramo de confecção e cosméticos. Abraão, segundo dizem, está no Nordeste e tem uma frota de jeep e carros de passeio, que aluga para turistas. Sidney, ah Sidney! Continua morando no morro, vive de biscates e a cada batida policial é levado a delegacia para prestar depoimento e sempre leva uns catiripapos.
Com os últimos acontecimentos no Estado do Rio, vi que os Josué e Abraão são investigados. Mesmo com todas as evidências contra eles, no máximo, vão para prisão domiciliar ou pagamento de pena alternativa. Já os Sidney, são assassinados, covardemente e sem direito a defesa. O terceiro sempre sobra. Acorda periferia!
Ah meu São Gonçalo! Protegei os filhos de sua terra!
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor


















































