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Chegadas e Partidas

Foto do escritor: Jornal DakiJornal Daki

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Por Paulinho Freitas

Foto: Reprodução/Instagram
Foto: Reprodução/Instagram

A década de oitenta foi marcada em mim como final de uma época de ouro na minha vida cultural.  Início do término dos blocos carnavalescos no Paraíso, onde o Bloco da Alvorada dava o pontapé inicial naquela magnífica festa de Momo. Eram quatro dias de desfiles da alegria e irreverência, com os bate bolas, os índios, cowboys, travestidos e mais uma infinidade de fantasias que nos fazia gargalhar e pensar em fazê-las para o próximo ano. 


Foram também se acabando os bailes de gafieira ali no Clube Costeira, no Barreto, os bailes com Orquestra Tabajara no clube Cinco de Julho, os piqueniques dançantes no Clube Vila Laje, os conjuntos Devaneios e Copa Sete.  


Enquanto esses movimentos saiam de cena os grupos de pagode começavam a invadir o mercado fonográfico e as rodas de samba que, inspiradas no grupo Fundo de Quintal começavam a se espalhar pela cidade. 



Na contramão desse processo de início e fim, Mara Rúbia, cantora gonçalense, onipotente, aparecia em tudo que era roda de samba, salas de serestas e, agora também, nos barzinhos que começaram a se espalhar pela cidade. De Neves a Ipiiba, do Barreto a São José de Itaboraí, alguém fechava os olhos e sonhava ao ouvir Mara Rúbia cantar. Eu mesmo, adolescente a vi numa madrugada cantando pelas ruas, acompanhada de um violão de sete cordas e um pandeiro. Uma das Imagens que mais emociona minhas recordações. 


Pulamos para o início da década de noventa, ali no Colubandê, num bar chamado Espelho Mágico, um rapazola, não sei se mais novo ou mais velho que eu, certamente mais novo, tocava violão e cantava, ele estava ficando noivo naquele dia e trabalhava feliz.  O moleque tocava bem e cantava melhor ainda, prova disso é que o bar estava lotado. Nesse dia conheci Beto Lemos, nunca tivemos amizade e também nenhuma intimidade, mas morando na mesma cidade, tendo amigos comuns e participando dos mesmos movimentos, sempre soube das andanças dele, assim como de outros artistas de grande valor em nossa cidade.  


A vida é cheia de coincidências para reflexão. Este Beto Lemos é sobrinho da Mara Rúbia, soube dia desses. Ele veio daquela árvore para virar raiz. Que bela surpresa tive ao saber disso. As árvores não morrem jamais. 


Beto Lemos nos deixou esta semana, fez uma bela caminhada pela vida, fez história e que bela história, partiu deixando saudade e boas lembranças. 


Assim como os blocos do Paraíso, os barzinhos de Neves a Ipiiba, do Barreto a São José de Itaboraí, assim como os bailes da Orquestra Tabajara no Cinco de Julho, os Piqueniques dançantes no Vila Laje, os Bailes de gafieira no Costeira, assim como Mara Rúbia, Beto Lemos saiu de cena.


O mundo das artes é uma grande estrada que vai dar não sei onde, mas tem uma estação em São Gonçalo onde o trem da vida, de tempos em tempos, vem pegar alguém para fazer seus shows, alegrar, fazer sonhar, renascer, cantar, tocar, escrever, pintar e produzir em outro plano astral.


O importante é saber que o mesmo condutor que leva um artista de São Gonçalo, deixa uma legião de aprendizes que vão beber daquela fonte, seguir os passos, vestir a fantasia, germinar, florescer, frutificar e virar raiz da mesma árvore e recomeçar tudo outra vez. A estação das artes de São Gonçalo está funcionando a todo vapor, toda hora tem partida e toda hora tem chegada. Sem hora marcada, mas sempre lembrada como um grande acontecimento, afinal, “O Show Tem Que Continuar. ” 


Valeu Beto! Inté! 


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.




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