Câmara prestes a explodir
Por Rodrigo Melo
O ambiente na Câmara de Vereadores de São Gonçalo não está nada bom. O que se sabe é que o presidente da Casa, Lecinho Bredas (MDB), sob a justificativa da diminuição dos repasses do duodécimo pela Prefeitura, tirou dos vereadores verbas e gratificações de Gabinete.
O ato de Lecinho, que está afastado se recuperando da Covid-19, gerou indignação e um mal estar que há muito não se via na casa de leis da cidade. O caldo entornou. Lecinho chegou a ser insultado, numa atitude sem precedentes dentro do Gabinete da Presidência, por um assessor parlamentar já famoso pelo atrevimento e truculência.
Ato contínuo, seus colegas de Mesa Diretora trabalharam firmes, e nem tão silenciosos assim, para retirá-lo do cargo, tendo como pretexto aplicar-lhe licenciamento compulsório para que responda às capivaras que possui junto ao Ministério Público.
Lecinho só não caiu porque o prefeito Nelson Ruas (PL), com apoio de parlamentares da oposição, intercedeu para que continuasse no cargo. Não se sabe, ainda, a que preço.
E por falar em cair...
Jalmir Junior (PRTB) não é mais, na prática, líder do governo Nelson. É o que garante alguns vereadores que passaram a informação em off.
O vereador, que é advogado e professor universitário, considerado de perfil técnico, até o início desta legislatura, adotou na liderança do governo a truculência como política de convencimento. Óbvio que ia dar errado.
A relação com seus pares que já era ruim, degringolou de vez na sessão plenária de 21/04, que aprovou o Projeto de Lei 06/21 da vereadora Priscilla Canedo (PT).
Jalmir, com um quê de displicência e negligencia com os assuntos de interesse do governo do qual era líder, papou mosca na negociação que aprovou o PL uma semana antes. E na hora H, tentou melar a votação, orientando os vereadores da base a votarem contra a proposição, subscrita por oposição e situação num raro consenso entre os edis.
Vexame.
Como não foi atendido, a ira subiu-lhe à cabeça.
Lá pelas tantas, contrariado e agressivo, despejou impropérios pra cima de seu colega de partido, Felipe Guarany, pedindo-lhe satisfação e lealdade que não o pertence, mas ao prefeito.
Sua inadequação à função de liderança ficou evidente, posto que exige prudência, diálogo, conhecimento de causa e dedicação permanente e atenta ao que é caro ao governo que serve.
Nas sessões plenárias seguintes, em 28/4 e ontem (05/5), três parlamentares se apresentaram com desenvoltura aos olhos do prefeito a substituir o líder caído: Alexandre Gomes (PV), Cici Maldonado (PL) e o próprio Guarany que, a despeito da idade, aparenta saber esperar e comer em prato frio.
Gratificações
Lembra das tais gratificações que foram retiradas dos vereadores, e que quase custou a cabeça do presidente da Câmara? Então...
Elas foram redistribuídas, mas não de modo igual entre os parlamentares. Caso o princípio da isonomia não seja respeitado na distribuição dos valores aos gabinetes, o vereador Romario Regis (PCdoB) prometeu fazer uma denúncia formal ao Ministério Público.
Oto patamá
Os vereadores Prof. Josemar (PSOL) e Romario Regis, realmente fazem um mandato em "Oto Patamá", uma analogia aí ao Flamengo de 2019.
Josemar, a propósito da construção do 18 de maio como Dia de Luta e Combate ao Genocídio da Juventude Negra - dia esse em que menino João Pedro foi assassinado pelas mãos da Polícia, em Itaoca - fez uma reunião na última sexta (30/4) com gente do Oiapoque ao Chuí, literalmente, que abraçou a proposta do parlamentar gonçalense para que essa data seja instituída em âmbito nacional.
Já Romario realizou uma audiência pública na segunda (03/5), com o mote de integração e desenvolvimento regional, com a presença de vários vereadores das câmaras de região e representantes institucionais e do terceiro setor, além do deputado estadual Waldeck Carneiro (PT) e o deputado federal Paulo Ramos (PDT), direto de Brasília.
Josemar e Romario conseguem se projetar nacionalmente e de modo consistente com apenas quatro meses de mandato. É ou não é "Oto Patamar"? Isso é inédito em São Gonçalo. E bem sintomático também.