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Me tornei pai em uma noite nervosa em Nova Cidade - Por Mário Lima Jr.


Reprodução Internet
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Era um sábado à noite, há 11 anos, e minha esposa sentia as dores provocadas pelo início do trabalho de parto. Nós morávamos no Bairro Almerinda e o obstetra morava no Recreio dos Bandeirantes. Ligamos pra ele pela segunda vez em vinte minutos, agora tinha havido sangramento, então o doutor Renato confirmou: vai pro hospital porque vai nascer.


Antes de falar com o médico, pesquisei os sintomas que Bia sentia no Google. Meio sem saber o que estava fazendo porque um nervosismo que apagava meus sentidos e movimentos aumentava junto com as contrações. Tentei contar o intervalo entre as dores e descobrir se realmente haveria nascimento e em quanto tempo. Se contorcendo ao meu lado no sofá, sem conseguir dizer uma palavra, Bia não gostou da ideia da pesquisa online naquele momento de dor extrema e reclama comigo até hoje.


Pra compensar o tempo perdido na Internet e com medo de ter que lidar com um nascimento dentro do carro, acelerei. Do Almerinda à Clínica São Silvestre, em Nova cidade, passei por cima de quebra-molas e buracos reduzindo a velocidade apenas para não quebrar o carro no caminho. Outra decisão ruim, até hoje Bia se lembra da dor que cada obstáculo provocou.



Antes de sair de casa, avisamos nossas famílias de que o Miguel estava nascendo. Meu sogro, minha sogra e minha cunhada vestiam roupas de gala para um aniversário de 15 anos. Adiaram a ida à festa e correram daquele jeito, brilhosos e chiques, para a São Silvestre. Por medo, outra vez, e por me considerar dispensável, não fiz questão de assistir o nascimento e também recebo reclamações eternas por isso. Homens, sejam fortes, o trabalho do parto também é de vocês.


Quando a enfermeira mostrou o Miguel, a família inteira (minha mãe se juntou ao grupo), um ao lado do outro, sorriu ao mesmo tempo do outro lado do vidro, cena de filme. A missão do parto tinha sido cumprida, então resolvi sair para comer alguma coisa, eram quase 10 horas da noite.


Tomado pela emoção de ser pai, preferi não dirigir, peguei um ônibus. A intenção era ir ao Habib’s, no Mutondo, mas entrei num ônibus que ia para o lado contrário, em direção ao Centro. Não sabia mais o que era sonho e realidade. No ônibus errado encontrei, por acaso, um tio da minha esposa. Contei pra ele a novidade e começamos uma conversa empolgada, ficando cada vez mais distante do Habib’s, do Mutondo e da minha esposa recém-operada no quarto.


Cheguei com as esfirras muito tempo depois. Meu sogro, minha sogra e minha cunhada me esperavam e já tinham perdido a festa. Bia estava com fome, mas, por causa da cirurgia recente, achamos melhor que ela não comesse as esfirras. Outra reclamação. O cheiro maravilhoso se espalhou pelo quarto.

 

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Mário Lima Jr. é escritor.



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