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Tamoio: a genealogia de um desastre - por Helcio Albano


Foto: Filipe Aguiar/O São Gonçalo
Foto: Filipe Aguiar/O São Gonçalo

Quem é gonçalense à vera acompanha apreensivo o desenrolar dos acontecimentos que envolvem o centenário clube alvinegro da Brasilândia. Na semana passada, mais precisamente na quinta (21), a notícia de que o Tamoio Futebol Clube havia sido leiloado caiu como uma bomba em São Gonçalo.



À exceção das partes diminutas envolvidas no processo que já dura 17 anos, ninguém, nem sócios do Clube, sabia que o imóvel à Presidente Kennedy, 101, havia sido adquirido por um empresário da noite, pela bagatela de R$ 2 milhões, para pagar uma dívida trabalhista de valor original de R$ 400 mil em 2004, e que teria virado, segundo a imprensa, R$ 1,5 milhão em 2015, ano em que houve o leilão que selaria o destino do TFC.



Mas como que um clube, que só em títulos de propriedade vale mais de meio bilhão de reais, pode ter sido empurrado bovinamente para esse desastre? A coisa é tão bizarra e de entrelaçamentos tão inacreditáveis, que vou lançar mão da teoria da árvore envenenada para dar cabo de explicar o fruto podre que daria nesta pataquada.


Em abril de 2002, o presidente à época, Silvio José Pinto (Silvinho), sob pressão, má-fé, ingenuidade ou burrice, vá saber, escreveu e assinou, de próprio punho, uma declaração ao Juízo do Trabalho admitindo ter assinado de “forma graciosa” a Carteira (CTPS) da advogada Renata Pimentel a fim de que ela pudesse “obter crédito junto ao mercado, não tendo a mesma qualquer vínculo com o Clube” (sic).



E reforça: “Esclareço ainda que, a declaração por mim assinada (de vínculo empregatício) para a Sra. Renata Bertim Pimentel foi elaborada e confecionada pela mesma, cujo salário apontado INEXISTE (grifo meu) uma vez que foi declarado, apenas, para que a mesma pudesse obter crédito junto ao mercado”.


Ou seja, o presidente admitiu à Justiça ter cometido fraude com coparticipação ativa da advogada que iria, em seguida, se beneficiar do ato improbo ao cobrar na Justiça direitos trabalhistas tendo como base, para abrir a ação que desembocaria na desapropriação do Clube Tamoio, quase vinte anos depois, um documento supostamente fraudado ou fraudulento com ciência das partes.



A Carteira, porém, assinada estava. E a Justiça do Trabalho não investiga as razões que levaram a sê-la. Coisa que poderia caber a outra esfera do Judiciário ou mesmo da Polícia. Fato é que, com a “confissão do crime”, o presidente incorreu, no mínimo, em improbidade administrativa, delito suficiente para tirá-lo do cargo.


Coisa que só viria acontecer com sua morte em 2004, depois de um “reinado” de quase 14 anos, e de péssimas lembranças, em que seu maior legado à frente do Clube, vê-se agora, é a sua destruição. Após anos e anos de desleixo criminoso refletido em sua decadência entre uma e outra interdição da Defesa Civil, dos Bombeiros, de ações da Polícia contra o Bingo ilegal semiclandestino que lá existe e de até um assassinato de um diretor em 2011, o Carlos Santana, que chocou a sociedade gonçalense.



O Tamoio, embora tombado em 2017, segue com seu futuro indefinido. O prédio, reconhecido como Patrimônio Histórico e Cultural, tem grande valor símbólico para o Município, mas pouco valor comercial para o novo proprietário, que já admite para gente próxima ter feito um mau negócio.


A Sociedade, com Prefeitura à frente, deve lutar para garantir a existência do Clube reconfigurado como um grande polo de Esportes, Lazer, Cultura e Memória. Nós devemos isso à sua História.

Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.



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