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Reveião

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Por Paulinho Freitas


Imagem gerada por IA
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A casa de Leleti amanheceu em polvorosa. Era trinta e um de dezembro, mas aquele era um final de ano diferente. Era o primeiro ano sem Adilino, o mais festeiro da família. Mesmo sendo o que menos falava, não cantava, não dançava, mas adorava ficar sentado na varanda vendo o pessoal se acabando de beber, cantar e dançar. Adilino abusava dos doces, mesmo sendo diabético, abusava das comidas gordurosas, dos destilados, dormia tarde e acordava cedo, além de fumar muito. Num dia de São João, entre fogos e quentões, Adilino fez a passagem, mas antes pediu que a família continuasse festeira e feliz. 


No velório de Adilino teve de tudo, samba, culto, macumba, gargalhadas e lágrimas. Mas, a vida continua e temos que virar a página. 


A família toda morava no mesmo quintal e nos dias de festa, cada uma fazia um prato. 

Lalá chegou com sua bandeja de carne assada que era esperada por todos como se fosse a última iguaria do mundo. Gilda trouxe aquele pernil suculento e pururucado e cada um ia chegando com suas especialidades culinárias que todo mundo adorava. A família estava feliz, como Adilino pediu. Até o que sempre destoava dos demais, por nada trazer além de fome e falta de educação, Jorge Careca, trouxe um lindo coelho assado.  


A noite estava linda! A meia noite, os fogos espocam por todos os lados, todos se abraçam e desejam o melhor para todos, mesmo que durante o ano alguém fale mal de alguém, mas na hora da dificuldade a primeira coisa que se faz é correr para abraçar e tentar de qualquer forma resolver o problema que pintar. Jorge Poeta interpretou com a competência de sempre o Monólogo das Mãos, de Ghiaroni, com fundo musical do violão de Jorge Frampton, até o próprio Procópio Ferreira bateria palmas se lá estivesse. Todos aplaudiam emocionados. 


Já quase pela manhã, Dona Lazinha lembra de Mimoso, seu gatinho angorá, enorme de gordo que passa os dias no braço do sofá, desapareceu, desde a noite anterior não aparecia em casa, saiu para o passeio diário e não voltou. Chamou por ele, andou pela rua e nada. Todos os olhos já olhavam para o esqueleto do coelho em cima da mesa e para Jorge Careca, que fazia cara de paisagem. 


Quando já estavam quase linchando o pobre do Jorge Careca, um grito, vindo do quarto de Sara Jane fez todo mundo correr para lá. É que a menina, ao abrir a porta do guarda roupas para apanhar seu pijama, descobriu que Mimoso, na verdade, era Mimosa e deu a luz a seis rajados e lindos gatinhos. Daí o sumiço. 


Desculpas pedidas, com as vozes já “embargadas pela emoção”, se é que me entendem, beijos molhados de perdão dados e já vem o dia primeiro de janeiro, ensolarado e feliz, até que Letícia, a caçula da família acorda e vem choramingando e resmungando: _ Geraldo sumiu! 


Geraldo era um gato vira latas, rajado como os filhos de Mimosa e gordo feito um leitão. Andava de telhado em telhado, mas sempre dormia em casa. 


Enquanto a família procurava Geraldo pela vizinhança, Jorge Careca saía de fininho a caminho da rodoviária, onde pegaria um ônibus para passar o restante das férias na casa de Pierre, primo distante, mas que servia o melhor camarão que ele já comeu na vida. 

A pergunta que não quer calar: Onde andará Geraldo? E, de onde saiu aquele Coelho? 


Xiiiiiiiiiiii!!!!!! 


FELIZ ANO NOVO!!!!!! 


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor

 

 

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