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Os “nudes” da alma em Nua de verdade, de Yonara Costa


O artista que se lança hoje na empreitada da escrita ficcional é antes de tudo um audacioso. Se o universo dos gêneros e tipos literários permite ao escritor escolher bem o estilo que lhe convém, certamente a diversidade de temas tende a frear o ímpeto artístico de quem busca estilisticamente um lugar ao sol. Com o livro Nua de verdade, Yonara Costa, que é poeta e professora, além de contista, acostumada a emprestar ouvidos ao Outro, deparamos com uma escrita que apresenta certa audácia, pois aborda assuntos sensíveis e plurais, mas sem que caia na armadilha dos juízos de valor.


Lançado pela Editora Conexão 7, o volume Nua de verdade contém paratextos do escritor, poeta e professor de Literatura Brasileira Augusto Dias e também do psicólogo, professor, teólogo, filósofo e sociólogo Diogo Bonioli. A obra constitui uma narrativa em terceira pessoa, sobre uma jovem de classe média saída da Bahia, com objetivo de estudar medicina na cidade do Rio de Janeiro. Essa personagem constrói amizades, envolve-se em paixões passageiras até que encontra a sua cara metade. A trama toma como motivo central uma síndrome rara de que a protagonista Rita é portadora desde o nascimento. Essa doença impossibilita a personagem principal de mentir, e nisso toda uma problemática se constrói, quando algumas questões de cunho ético-filosófico se anunciam, por exemplo: como viver em sociedade sem pronunciar mentira alguma? Ao dizer somente a verdade é possível a alguém atingir a felicidade tão almejada? Assim, com essa problemática em vista, a sinceridade na emissão dos juízos aparece para Rita mais como uma condenação e menos como escolha própria. Principalmente, pelo fato de ela ter sido batizada em honra à Santa Rita, cuja mãe católica se mostra muitíssimo devota e carola.

Nesse sentido, entre um perambular pela orla do Rio de Janeiro ouvindo o barulho das ondas ou sentada sobre a bicicleta do amigo durante um passeio na sua Bahia natal, as idas e vindas no espaço e no tempo da história de Rita são capazes de surpreender o leitor que espera uma leitura simplificada, típica daquelas fórmulas já desbotadas de criação literária. Soma-se a isso, o enredo contar com aventuras amorosas, viagens, além de trazer à tona problemas de convivência ligados à vida familiar da personagem, bem como conflitos com suas raízes e tradições. Ao revelar à mãe que decidiu não ser freira (em hipótese nenhuma) e sim seguir a carreira de médica pós-graduada e viver com o namorado na Inglaterra, Rita se vê em meio ao dilema: o que seria mais importante na vida, a profissão almejada ou os laços que a unem à mãe dominadora que se encontra em vias de adoecer? Qual a decisão certa a tomar, ficar com a família na Bahia ou realizar o objetivo de ser doutora na Europa?

Enfim, o sabor da leitura de Nua de verdade contém aquela pitada apimentada pelas mãos da autora que sabe bem o que faz, em uma história temperada pela sensualidade da personagem e sua nudez, mas de uma nudez que é, antes de tudo, da alma.

Referência:

COSTA, Yonara. Nua de verdade. Rio de Janeiro: Editora Conexão 7, 2018, 104 p.

* A versão original deste texto se encontra na Alumni: Revista Discente da Uniabeu, V. 6, n.12, 2018 Site: https://revista.uniabeu.edu.br/index.php/alu/article/view/3427/2431


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