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Arsenal, por Erick Bernardes


Fonte: onibusbrasil.com
Fonte: onibusbrasil.com

Dona Santa havia trabalhado lá em casa por pelo menos uns cinco anos seguidos. Uma senhora redonda, corada, dentes de verdade ainda, bastante distinta e simpática. Já foi rica, teve importância na sociedade, mas não gostava de falar do momento exato de quando as finanças do marido iniciaram a derrocada — isso antes que o coitado e honesto empresário enfartasse pela segunda e derradeira vez.


A cafeteira recém-adquirida borbulhava sobre a pia.


— O café, dona Santa.


— Ah!


A nobre empregada se punha a arrastar os chinelos largos pelo chão da copa e nos servia o líquido quente e cheiroso tão logo anunciado pelo aparelho. Aroma aconchegante. Havia prazer em nos servir, não precisava, éramos pobres também lá em casa. Mas estava claro o propósito de servir e aproveitar o momento para narrar mais uma história. E assim ela discorreu:


— Eu morava no Arsenal, casa boa, grande, meu esposo era dono de dois supermercados em Niterói. Mas com a chegada das grandes marcas multinacionais, ele passou de mal a pior. Faliu primeiro a loja maior, depois fechou a outra. Infelizmente. Morreu e deixou dívidas que paguei. Sim, eu mesma quitei as contas negativas com o valor da poupança conjunta que sobrou. Honestidade acima de tudo.


— Sobre o Arsenal, já ouvi falar tanta coisa, dona Santa, porém, das histórias do nome do lugar só me chegam burburinhos.


— Ah, isso eu sei, eu era menina ainda quando cheguei a morar lá pela primeira vez. Na região havia no máximo uma dúzia de casas, estrada nenhuma existia, contávamos apenas com o que se convencionou chamar de caminho da roça. Transporte quase zero.


— E sobre o nome do bairro?


— Recordo de alguns flashes de infância, lembro de um certo torneio de futebol acontecido entre o clube Arsenal da Inglaterra, contra o time do Fluminense, em 1950. Daí por diante, por volta de 1960, parte do bairro Tribobó recebera o registro territorial de Arsenal. Não faz tanto tempo assim. Tudo é recente em SG.


Deus abençoe a sua memória, dona Santa, e não permita que esqueçamos nossa história.

Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.





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