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Dias de luta

Por Hélida Gmeiner Matta

Manifestação na Prefeitura de São Gonçalo/Foto: Divulgação Sepe
Manifestação na Prefeitura de São Gonçalo/Foto: Divulgação Sepe

Duas cidades vizinhas, cujas histórias se entrelaçam. E como a antiga dupla humorística "o primo rico e o primo pobre", são comparadas, provocando muita rivalidade, muitos atravessamentos também.


Essa semana mais um episódio desse entrelaçamento aconteceu. E em um dos temas que mais suscitam a comparação entre elas, na história recente; a Educação. As duas redes municipais de educação viveram dias agitados. Ambas em greve dos profissionais da educação, lutando. A pauta, a defesa de direitos já alcançados, atacados pelos dois governos.


Considerada a "prima rica", Niterói fez seus educadores amargarem um reajuste que não cobre sequer as perdas inflacionárias. Com mais de 300 educadores recebendo abaixo do piso nacional, escolas sucateadas e acordos não cumpridos. Depois de inúmeras manifestações, inclusive de alunas e alunos, ainda crianças, acompanhados por seus pais. A greve teve início em 31 de agosto.



Ainda antes, a questão dos professores que recebiam abaixo do piso foi solucionada, mas de forma que desmonta o Plano de Carreira da Educação. Isso foi o estopim. As negociações avançaram pouquíssimo, além disso a FME (Fundação Municipal de Educação) fez um grave ataque apresentando o valor dos salários em nota à população, distorcendo a pauta. O comando de greve soltou nota em resposta. Mas o movimento, já enfraquecido pelo desgaste de descontos e prejuízos aos estudantes, optou por terminar a greve e permanecer mobilizado lutando.


Já em São Gonçalo os problemas são muito mais agudos. Além do grave sucateamento das escolas, falta de professores, apesar de um concurso vigente, os profissionais da educação deste município sofreram recentemente um duro golpe que desmontou seu Plano de Carreira. Também eles foram empurrados para uma greve, depois de muitos outros movimentos.



No contexto dessa luta, tendo sido derrotado no MP, que reconheceu, em audiência, a razão do SEPE (Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação), o prefeito Nelson Ruas anunciou em live um reajuste para todo o funcionalismo. A aparente vitória esconde o fato de que um número significativo de profissionais da educação não verá esse reajuste, por receberem uma "pseudo vantagem", que em verdade, é apenas o que já recebiam antes do "novo plano" e que não se enquadra no atual. A categoria fez sua assembleia nesta quinta-feira e decidiu pela permanência da greve, com calendário de atos e manifestações.


Falar dessas das redes de educação, olhando-as de onde olho, enquanto profissional em ambas, é sempre uma experiência desafiadora. Não é fácil educar nesse país. Não é simples ser servidora e enfrentar as perdas e ganhos na trajetória. Nossa única certeza é a luta. É ela que nos une, nos iguala. Não há nada de tão expressivo, do que as palavras de Paulo Freire para dizer sobre nós. " Ser professor e não lutar é uma contradição pedagógica". É na luta que a gente se encontra!


Colaboração: Graciane Volotão

 

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Hélida Gmeiner Matta é professora da Educação Básica da rede pública. Pedagoga, Especialista em alfabetização dos alunos das classes populares, Mestre em Educação em Processos Formativos e Desigualdades Sociais e membra do Coletivo ELA – Educação Liberdade para Aprender.


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