Duzão e Damião

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Por Paulinho Freitas     

Bailarina do Balão Dourado de São Gonçalo/Foto: reprodução

DUZÃO sempre foi o mais sensível da turma. Usava óculos, era o mais fraco nas brincadeiras e gostava mais de ler jornais e revistas, que jogar bola, soltar pipas, essas coisas de menino de antigamente. Gostava mais de salada que de churrasco. Ao contrário, Damião sempre foi o maior e mais forte da turma. Estavam sempre juntos. Quando alguém queria fazer alguma covardia ou pilhéria com Duzão, Damião vinha com a fúria de um cão de guarda, defender o amigo.  

Damião era figura constante à mesa na casa de Duzão. Não dispensava nada. O que tinha na mesa era devorado por ele enquanto Duzão sorria e balançava a cabeça negativamente pela ferocidade com a qual o amigo devorava a comida. 

O tempo passou, Duzão virou professor Eduardo, leciona história, Damião, virou Diana, excelente cantora e bailarina, apaixonada por festas juninas e continuaram amigos inseparáveis. Num dia de São João, quando imensos e iluminados balões cruzavam os céus, Diana deixou este mundo. Isso faz muito tempo. 

Neste último final de semana rolou o evento Oxente São Gonçalo. Eu participei e me emocionei várias vezes durante o evento. Primeiro, ao ver e ouvir Luiz Antônio Simas, dividir com uma plateia de quase duzentas pessoas, em silêncio e com olhos brilhantes, ávidos para ver mais e aprender mais. O cara de um conhecimento absurdo e de uma generosidade monstra. Antes dele se apresentar e após a sua apresentação, fomos brindados com o magistral som do grupo Trisal, comandado por Leon. 

Depois, me emocionei com o grupo Quebra Telha, composto por artistas gonçalenses, do quilate de Magno da Gaita, Jeferson e Gabriel, logo depois, Wilian Gomes e o grupo Erva Doce.  No final de suas apresentações, o Quebra Telha tocava aquela música de quadrilha que inunda nossas boas lembranças e nos faz virar crianças novamente. De emocionar mesmo. O público presente fez uma grande roda e dançou a Valer. 

No domingo, além dos dois grupos, apresentaram-se Tapetão e sua turma, Miguelito, também acompanhado também de outros circenses muito divertidos e talentosos. As crianças ficaram numa felicidade só. Ainda antes do final, foi sorteada uma linda bicicleta que nem dá para descrever a emoção da criança que ganhou e o mar de lágrimas que derramei. Essa festa veio pra me infartar. 

Fiquei também imensamente feliz, porque os organizadores e o poder público provaram que é possível o diálogo e a realização de eventos culturais de grande porte na cidade mesmo tendo linhas políticas diferente. É sentar, conversar, ver o que é melhor para a população e realizar. Parabéns à Daumas&Daumas e aos parceiros pela realização. Feliz também por ter trabalhado de novo em produção. Nossa! Que viagem! 

O gran finale ficou por conta da quadrilha do Balão Dourado de São Gonçalo. Caramba! Há quanto tempo eu não assistia uma apresentação. Agora está tudo diferente, eles contam uma história, um verdadeiro teatro. Que lindo! 

Na frente, na primeira fila de dançarinos, uma mulher de mais de um metro e oitenta bailava feliz. Ao lado dela, seu par, um cara franzino, de óculos de lentes grossas dançava desengonçadamente, muito engraçado. Os dois se entre olhavam em sincronia e nos passos, pareciam ter os pés fora do chão, flutuavam.  Ela foi a mais aplaudida e a mais requisitada para fotos com o público presente. Perto de onde eu estava, um homem de barbas brancas, magrelo, óculos de lentes grossas, olhava para aquela enorme mulher,  chorava e falava baixinho:  Diana... Diana... Ô vida! Por que fazes isso comigo? 

Obs: Ainda não acabou. Sábado, dia 05/07/2025 tem mais. Vai começar com muito forró, depois teremos apresentação de quadrilhas PODE C SHOW e BALAO DOURADO DE SÃO GONCALO e encerrando com a banda Quebra Telha quebrando tudo. Deus do céu! Vem mais choradeira por aí! 

Venha também! Traz todo mundo! 

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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor