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Entrevista Daki: Zé Salvador, escritor e cordelista

Por Rofa Araújo


Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Hoje temos a honra de entrevistar o escritor e cordelista Zé Salvador.


Ele é Técnico em Contabilidade, Liceu do Ceará, concluído no CEJOP. São Gonçalo, RJ. Autodidata em tudo que fez e faz. Palestrante e Oficineiro de Cordel. Na pandemia escreveu 32 cordéis e um livro que publicou, participou de muitas lives, inclusive uma como oficina a convite do consulado do Cazaquistão, em parceria com a Biblioteca Annita Porto Martins de onde nasceu o cordel: “As Palavras, Chave das Portas Entre Abertas”, onde fez alusão à vida do poeta Abai Qunanbayuly, o pai da língua escrita.


Em 2022, com a ajuda de poetas amigos, dentre os quais Ezequiel, Carlos Henrique (Chuveirinho) criou a Academia Gonçalense de Literatura de Cordel (AGLC); realizou o primeiro concurso de literatura de cordel de São Gonçalo (de âmbito nacional) que com o resultado, publicou o folheto “CORDELANDO NOSSO FOLCLORE”, tema do concurso. Três poetas de estados distintos foram agraciados, Rio de janeiro (Niterói), Ceará (Reriutaba) e Rio Grande do Norte (Natal).


Escreveu um cordel, contando a vida do Cardeal Dom Orani Tempesta, a pedido da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro, através de um de seus assessores, está em processo de revisão, em breve será publicado.


Apresentou um anteprojeto para a Vereadora Mariângela Valviesse, para criar o dia municipal do cordel de São Gonçalo. Virou projeto, foi aprovado pela câmara Municipal e foi instituído o dia Municipal do Cordel, 8 de julho, homenagem ao cantor, cantador e cordelista Moraes Moreira.


No dia 23 de novembro de 2022, recebeu o Título de Cidadão Gonçalense da Câmara Municipal de São Gonçalo, RJ.


Faz oficina e palestra, como voluntário em colégios municipais periféricos.


1 – Sabemos que é um mestre cordelista. Essa Literatura de Cordel foi originada do Nordeste mesmo, sua terra natal? E qual a razão de possuir esse nome?


A literata de cordel, na verdade, ela veio parar no Brasil trazida pelos nossos colonizadores portugueses, mas só no fim do século XIX começou a ser publicada em pequenas tipografias na acidade do Recife – PE. Vale lembrar, que aportou em Salvador na Bahia, sem a estrutura hoje conhecida. E aportou em Salvador, por razões obvias: Era a Capital do Brasil.


Silvino Pirauá, natural de Patos na Paraíba (+1848 – 1913) cantador e glosador e Leandro Gomes de Barros (+1865 – 1918) foram os pioneiros, dando a roupagem textual típica nordestina. Desde esse período o cordel foi se desenvolvendo praticamente no Nordeste. A grande maioria dos poetas fazedores desses folhetos, são nordestinos e todos obedecem rigorosamente ao estilo de Leandro e Silvino, há mais de 120 anos. Leandro, considerado o pai do cordel moderno, foi quem deu a forma editoral, como hoje é apresentada. Obviamente que houve desde então, uma evolução, em especial nas capas. Os primeiros romances, versos, folhetos, como eram chamados, apresentavam geralmente capas cegas, que evoluiu para capas com clichês depois, fotos de artistas do cinema americano e em seguida para xilogravura. Que é um outro capítulo da história.


O nome cordel, é um modismo. No ano 59, seguindo uma pista falsa, a dos sebastianistas, um pesquisador francês, da universidade de Sorbone, chamado Raymond Cantel (+1914 – Paris,1986) veio ao Brasil, seguindo uma pista falsa, a dos sebastianistas. Não encontrou, mas, Ao desembarcar em Recife – PE teve contato com os livretos e se abaixou. Viu alguma semelhança com os que conhecia da Europa e os chamou de cordel. Veio primeiro o apelido, depois é que veio aos poucos sendo empregado. Isso na deca de 70. Os editores passaram a colocar na capa Literatura de cordel. Alguns orgulhosos.


2 – O que difere esse gênero de outros como poemas, trovas, para quem sabe? Quer citar um exemplo de uma obra sua?


O cordel, é um poema com início meio e fim. Ele tem sua base de sustentação nas características principais, que é um tripé: métrica, rima e oração. Métrica: É a medida do verso, contagem das sílabas poéticas. Rima: É o processo de repetição do som no final dos versos. É a coincidência sonora no final dos versos. Oração: É o enredo com sentido coerente. A história em si.


O cordel é diferente da trova, que é composta por quatro versos e tem o sentido completo, com rimas alternadas ABAB.


O cordel é trabalhado, na maioria das vezes em sextilhas (estrofes de seis versos) ou septilhas (estrofes de sete versos) em redondilha maior, versos de sete silabas poéticas.


Porém isto não impede de se trabalhar o cordel em outros tipos de estrofes, como: Décimas de sete pés, (redondilha maior); Martelo agalopado, (estrofe de dez versos decassílabos.) etc.


sextilha: Distribuição de rimas xaxaxa

Nessa história me aventuro,

Faço nela o meu papel;

Tentando a integração

Através desse cordel,

Suave desconstruindo

Essa torre cde babel.

. Do cordel: As Palavras, Chave das Portas Entre Abertas. pg.7


– Mãe faz pra mim um boneco.

Eu quero um parceiro agora,

um boneco forrozeiro,

faça já a e sem demora,

quero dançar meu forró

não deixe passar da hora.


Do cordel: A mulher que casou com um boneco de pano. pg.3


Septilha: Distribuição de rimas xaxabba


Foi assim que um menino

– tão arteiro que sei não –,

foi atrás dos vagalumes

no meio da escuridão,

desejando-lhes sentir

seguiu os “luzir-luzir”

e quis pegá-los na mão!


Do cordel: O menino que ganhou uma constelação de estrelas pg.2


3 – É morador de São Gonçalo por muitos anos, mas é nordestino. Diga um pouco de como é a sua terra...


Nasci no dia 22 de junho 1955, em Tianguá, Ceará. Na Serra da Ibiapaba, Noroeste do Estado, 740m de altitude, serra. Portanto, clima ameno, por ser cortada por uma BR, a 222, tornava-se próspera. Porém uma cidade, na época economicamente agrícola. Cidades limítrofes, ao Norte: Viçosa do Ceará, ao sul: Ubajara, a Leste: Coreaú, Frecheirinha, a Oeste: Piauí.


Fui alfabetizado em casa pela minha mãe, (posso assegurar que foi através dos folhetos, porque, tive muito contato com a literatura popular através da minha avó, minha mãe e meu pai, além dos cantadores vendedores de folhetos nas feiras de Tianguá e Ubajara. Fui pela primeira vez para a escola convencional aos 11 anos. Já sabia ler escrever e contar. Deixei meu Torrão em 1973, fui morar em Fortaleza. Fevereiro de 1977 imigrei para o Sudeste (Estado do Rio de Janeiro). Aonde moro em São Gonçalo há 45 anos.


4 – Quantos livros já lançou? Sei que já participou de antologias e recebeu prêmios como cordelista. Qual a emoção de ser um desbravador de uma literatura tão importante e tipicamente brasileira como a Literatura de Cordel?


Eu tenho participação em cerca de 100 antologias, em vários gêneros literários. Também tenho publicado mais ou menos 92 cordéis, Além de uns 23 em parceria com outros poetas. Tenho três livros solo, publicados. Um de sonetos (VAI UM SONETO AÍ¿) esgotado. Um de poemas curtos em estilo Cordel (O TEMPO NÃO REPRISA A VIDA) que fiz para arrecadar fundos para o Abrigo do Cristo Redentor, e um onde tem dez cordéis que falo da Cidade de São Gonçalo. (SÃO GONÇALO CANTADO EM CORDEL) baseado nas crônicas do Erick Bernardes (Cambada crônicas papa-goiaba). Selo da Apologia Brasil. Tenho oito volumes de poesias estilo livre que não consegui publicar.


É espinhosa a tarefa, mas é satisfatória a sensação de sentir-se pioneiro na cidade, levando no peito e na raça, e apresentar a literatura de cordel nas escolas e onde vejo que dá para entrar mesmo forçando barra.


5 – Quais as experiências de ver alunos, jovens e até crianças tendo contato com sua literatura?


Acho maravilhoso. Eu faço porque amo trabalhar com literatura do cordel. E o fato de eu levar para colégios de periferia, inda que também leve para colégios particulares e faculdades, nos colégios públicos periféricos onde geralmente faço como voluntário, fico muito satisfeito quando o corpo docente se voluntaria em ser um multiplicador. E mais ainda, me dá prazer quando vejo os alunos interessados em aprender. Os olhinhos brilhando, curiosos fazendo indagações. Eu tenho cordéis coletivos feitos por alunos do 7º ao 9º ano e por alunos da EJA e até por professores.


6 – Quais os seus contatos para quem quiser entrar em contato, conhecer o escritor Zé Salvador e suas obras?


Meus contatos: Instagram @ze.z.salvador; WhatsApp: 55+ (21) 9 8027 4279 face book 9 8027 4279 ( Zé Salvador).

 

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Rofa Araujo é jornalista, escritor (cronista, contista e poeta), mestre em Estudos Literários (UERJ), professor, palestrante, filósofo e teólogo.



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