O abençoado petróleo – e suas doenças e curas, por Sammis Reachers
- Jornal Daki

- 26 de jan. de 2020
- 3 min de leitura

Vivemos num sistema-mundo capitalista, e o ‘motor’ deste imenso maquinário de produção e acumulação de capital tem sido movido fundamentalmente à petróleo, já há um século ou mais. Para que você tenha uma ideia da escala de valores a que o petróleo está atrelado, das quinze maiores empresas de capital aberto do mundo segundo a Forbes (2019), duas são da área petrolífera, na nona e décima-primeira colocações (respectivamente a Shell e a Exxon Mobil).
As consequências desta indústria, para bem e mal, hoje são colhidas pelo planeta e o conjunto de seus habitantes. Considerando os males, tanto a terra e os ares são afetados pela poluição causada pela extração, beneficiamento e principalmente a queima desses produtos, quanto os oceanos e toda a hidrosfera têm sido vitimados pela contaminação e degradação decorrente dos mesmos processos. Com o agravante de que, na água, o poder nocivo do óleo ao ecossistema é muito maior do que, por exemplo, se derramado em terra firme.
Oleodutos enormes cruzam grandes extensões de terra, mares e oceanos; a cada dia, petroleiros do tamanho de três ou mais quarteirões cruzam o planeta. A plataforma continental é perfurada em busca de petróleo, a profundidades (e sob riscos) cada vez maiores. De quando em quando grandes vazamentos ocorrem, e a maioria ganha as páginas da mídia. Mas e os pequenos ‘derrames’ e contaminações que ocorrem todos os dias (por exemplo, quando os tanques dos petroleiros são lavados)? Quem fiscaliza? Quem pune? Pior: Quem vê?
Há pouco tempo, um considerável vazamento (criminoso? Inocentemente culposo?) atingiu largos trechos da costa brasileira. Envolvemos Forças Armadas, serviços de inteligência (?) e mesmo forças não-estatais como a mídia e ONGs, mas, como está se tornando de praxe no atual governo, não encontramos culpados, e pagamos o preço do amadorismo, o preço que ele sempre cobra: a humilhação.
Já desde a descoberta do pré-sal vivenciamos o “oba-oba” do petróleo. Municípios como Maricá quase que “nadam” em petrodólares – e isso é bom, é ótimo. O município tem respaldado sua população com um sem-número de aportes e serviços, alguns deles modelares a nível nacional, se não mundial. Mas que a ilusão do ouro negro (esse estranho ouro com prazo de validade e efeitos colaterais) não nos consuma.
A qualquer momento, um grande desastre pode ocorrer em nosso território estadual, de proporções dantescas, risco aumentado pelo já citado amadorismo institucional que se espraia das esferas federais, como os tentáculos de uma (êpa, agora já não podem culpar o Lula) quimera. Por isso é justo o recebimento maior de royalties por nosso estado e, nele, alguns municípios: é o nosso que está na reta. Quanto mais na reta, mais royalties. Mas deixemos este tema para uma próxima reflexão.
Neste cenário favorável, não podemos perder o foco da sustentabilidade. Não podemos deixar de investir, pesquisar, construir em direções sustentáveis. E mais: Uma mudança de paradigma faz-se necessária. A adoção cada vez maior dos chamados biocombustíveis, baseados em recursos renováveis (como o etanol de cana-de-açúcar), a utilização de fontes de energia também renováveis, como as energias solar e eólica representam a salvaguarda e a garantia de futuro para nosso país. Novas tecnologias têm sido gestadas, e seu preço barateado ou mesmo subsidiado por alguns atores interessados – enquanto são sabotados por tantos outros...
Para o rompimento definitivo com o antigo paradigma é necessário ir além, e desfazer os mecanismos de poder, manipulação e sabotagem da própria estrutura/entidade enferrujada e quimérica que domina larga fatia da economia mundial (e a maior parte de sua geopolítica): A indústria petroquímica e seus muitos fantoches e avatares.
Em nosso quintal, a eventual privatização de nossa indústria petrolífera, no todo ou em partes, possivelmente aumentará nosso desenvolvimento monodirecional nesse setor, mas, igualmente, nossa fauna de tais quimeras e sua carga de enfermidades, sem garantias de retorno real para a população. No centro desse picadeiro, o ministro Guedes, (in)conveniente chamado de “posto Ipiranga”, pretende vender justamente as partes mais rentáveis de nossa indústria – mas obedecendo a que ideário ou a que interesses? Responda quem puder.
Alguns livros (gratuitos) que escrevi ou organizei podem ser baixados AQUI.
Um pouco de poesia experimental? Eu experimento AQUI.

Sammis Reachers, nascido por acaso em Niterói mas gonçalense desde sempre, é poeta, escritor e editor, autor de sete livros de poesia e dois de contos, e professor de Geografia no tempo que lhe resta – ou vice-versa.














































































Então, ontem, em um hotel que estou hospedado em Brasília, não pude deixar de ouvir a conversa de duas pessoas. Ao meu lado estavam um lobista e um assessor do Lulinha (sim, o catador de bosta). Ao contrário do apontado na reportagem, não é o Guedes o responsável por fomentar a questão, mas sim o filho do 9. Sem pudores, os dois conversavam a mando do primogênito do capeta, declarando os interesses nefastos imbuídos na pretensiosa empreitada de exploração de petróleo na foz do Velho Chico sob a tutela da Exxon Mobil. Então, por favor, Autor, informe-se! O velho PT e seus discípulos querem, à todo vapor, voltar a fazer merda .