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“Odeio preencher burocracia escolar!”

Por Hélida Gmeiner


Foto: Pixabay
Foto: Pixabay

A frase que dá título a esse artigo é repetida todo final de período letivo. Há, historicamente, uma demanda desgastante de documentação a ser elaborada e preenchida. Todas com rígidas formas e proibições. Pretendo repensar o papel e a utilização da documentação na e para a Educação. A que se presta a papelada que lota as secretarias escolares? Haveria uma outra forma de perceber e realizá-la?


Uma das nossas principais queixas é quanto a finalidade de tantas linhas, formulários, relatórios, fichas etc. lembra a preguiça do Caetano em Sem Lenço, Sem Documento: “Quem lê tanta notícia?” pergunta. A gente nem duvida que ninguém lê... E é aí que começo a pensar... afinal para quem é escrita a documentação escolar?


Essa questão aponta um caminho possível para ressignificar a documentação escolar. Veja, no início do ano letivo temos de preparar o plano de curso, um instrumento onde listamos o que queremos trabalhar naquele ano. Isso com base no currículo definido pelas instâncias superiores da Educação, em cada sistema. Atualmente temos a famigerada (será só isso?) BNCC. Muito bem, terminado e entregue o plano de curso, o que é feito dele? Faz sentido ter um plano abandonado no arquivo da secretaria? Não seria muito mais importante que ele fosse elaborado coletivamente, ainda que respeitando parâmetros curriculares, e tê-lo por perto o tempo todo?



E o plano de aula, um dos que mais atropela o cotidiano escolar, a que se destina? A prestar contas para a supervisão técnica ou para organizar a rotina diária das aulas? Na imensa maioria das vezes é para a primeira possibilidade. Aí, sem dúvida alguma se torna motivo das reclamações... há ainda hoje, o visto de planos de aula passados... muitas vezes a professora ou professor têm que “colocar em dia” planos de aula em formato definido por alguém que não ela ou ele. Para quê? Saber o que aconteceu na turma não seria muito mais fácil olhando o que foi feito, no caderno ou outro instrumento do aluno. O plano de aula deveria ser algo que contribuísse para o fazer docente, de forma livre e pessoal. O trabalho de supervisão seria o de acompanhar o trabalho efetivo.


Quero aqui lembrar daquele que mais suscita polêmicas, o diário escolar. Esse documento causa tanto estresse, quanto poderia ser um aliado, se não carregasse o estigma quase irreal que tem. Convido educadoras, coordenadoras e diretoras a repensar o diário. Colegas, é diário, é para ser feito diariamente. É um documento, portanto não pode ter rasura, nem desaparecer. Mas se é, e é, tudo isso, vamos trazê-lo para a contemporaneidade? Que tal um diário virtual, com opção de imprimir? Olha, o IBGE faz o senso com um instrumento bem interessante. O pessoal não gosta de cardápio por QR-code, mas aposto que diário escolar seria um sucesso. A rede estadual do RJ tem, ou teve, algo assim, mas era duplo. Preenchiam o físico e o virtual, francamente.


Chego então ao mais novo, e mais trabalhoso dos documentos escolares; os relatórios. Esse esforço teria imensa importância para a educação, não fosse cercado de regras, obrigatoriedades, proibições. Um relatório que se preze é um mergulho cuidadoso com seu tema. Relatar as suas impressões sobre um estudantes deveria exigir minúcias, desprendimento e reflexões. Deveria ser dialógico, partilhado com colegas, familiares e, por que não, com o próprio estudante? Ele precisa ser único, precisa conter a responsabilidade sobre o indivíduo que o sistema percebe. Mas os relatórios repetem (muitas vezes à mão) conteúdos, eventos. Bases estruturais, modelos prontos... uma infinidade de controles que impedem o mais importante, debruçar sobre aquele estudante, a isso reserva-se três a quatro linhas. Será que não seria mais produtivo, focar esforços para enxergar o indivíduo no universo coletivo na turma?


Bem, encerro meu artigo buscando incomodar e paradoxalmente acolher profissionais da educação de todas as esferas, aqueles no chão da escola, os estudiosos da academia e os responsáveis nos gabinetes a repensar o papel da documentação escolar.


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Hélida Gmeiner Matta é professora da Educação Básica da rede pública. Pedagoga, Especialista em alfabetização dos alunos das classes populares, Mestre em Educação em Processos Formativos e Desigualdades Sociais e membra do Coletivo ELA – Educação Liberdade para Aprender.



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