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Aos gritos de 'O Tamoio é nosso', manifestantes fecham Presidente Kennedy

Ausência de representantes da Prefeitura e do Legislativo foi sentida. Apenas o vereador Romario Regis (PCdoB) compareceu


Por Cláudio Figueiras

Manifestantes improvisaram cartazes no protesto/Foto: Jornal Daki
Manifestantes improvisaram cartazes no protesto/Foto: Jornal Daki

Cerca de 70 pessoas, sob sol forte, compareceram ao ato de protesto realizado nesta sexta (22) contra a venda do Clube Tamoio, via leilão judicial, que pegou a cidade de surpresa.


Sócios, frequentadores e amantes do centenário clube alvinegro, cheio de histórias nas áreas dos esportes, cultura e do carnaval, bradavam, com indignação, palavras de ordem, como "O Tamoio é nosso!" "Justiça, Justiça!" e "Fora Daniel" enquanto fechavam a Av. Presidente Kennedy, já no final da manhã.



Em vez de revolta contra o ato extremo, os manifestantes receberam de volta buzinaços de apoio e solidariedade dos motoristas em meio ao congestionamento que se formou na altura do nº 101 da avenida, depois liberada apenas em uma faixa:


Tá certo! É isso aí! Isso é uma vergonha! O Tamoio é nosso!”, disse um dos motoristas, repetindo o bordão dos manifestantes.



Morador do Porto da Pedra e sócio remido do Tamoio, Rafael Abreu, 38, lamenta o desfecho do Clube:


“Minha mãe foi jogadora de vôlei do clube. Minha vida toda foi aqui. Esporte, lazer, shows inesquecíveis, namoros. O Tamoio é um patrimônio da cidade e não pode acabar desse jeito. Além da sociedade, a Prefeitura tem que fazer alguma coisa para que esse absurdo seja revertido. O Tamoio é importante não só historicamente, muita gente usa o clube diariamente para diversas atividades”, afirmou Abreu, muito emocionado.


O prédio e o terreno do Tamoio Futebol Clube (TFC), fundado em 1917, foram arrematados por R$ 2 milhões em leilão pelo empresário Daniel Luz, ex-dono da Casa de Shows Inove. Nesta quinta (22), Luz foi autorizado a tomar posse do imóvel pela 2ª Vara do Trabalho de São Gonçalo, com apoio de segurança privada, da polícia e de uma retroescavadeira.



A demolição do prédio só não ocorreu devido uma intervenção pessoal do presidente da Câmara de Vereadores, Lecinho Breda (MDB), junto aos Oficiais de Justiça do Trabalho que cumpriam Mandado de Imissão de Posse no final da tarde de ontem.


Breda é autor da Lei 704/2017 de Tombamento do Clube como Patrimônio Histórico e Cultural, sancionada pelo ex-prefeito José Luiz Nanci em julho de 2017, ano que se comemorou o centenário do Tamoio.


Na madrugada de hoje, o vereador Romario Regis (PCdoB) protocolou ação popular com pedido de liminar no Plantão Judiciário baseado na lei de tombamento municipal para tentar, senão reverter a decisão, ganhar tempo para que outros órgãos sejam provocados para garantir o reconhecimento do Clube Tamoio como patrimônio inalienável do Município.



Tô aqui na frente do Tamoio para defender esse patrimônio fundamental para a cidade. Já perdemos vários, como a casa de Zélio de Moraes, o Palacete do Mimi. A gente não pode perder o Tamoio. Fui no Plantão Judiciário, fiz uma Ação Popular. Fui no MP para poder questionar também a derrubada que querem fazer. Vou na Alerj também, na Câmara Federal pedir para deputados protocolarem o pedido de tombamento nessas esferas para a gente questionar o Iphan e o Inepac e também a Prefeitura de São Gonçalo para defender o Tamoio”, disse Romario, único parlamentar presente ao ato no Tamoio.



O parlamentar também protocolará ainda hoje na mesa diretora da Câmara pedido de urgência de uma audiência pública para ser realizada na terça (26) sobre o imbróglio do Tamoio. Está sendo estudado pelo Gabinete do vereador a criação de uma comissão específica com participação da sociedade civil sobre o assunto e até mesmo a abertura de uma CPI para investigar como foi possível a diretoria do Tamoio deixar a situação chegar a esse ponto.



O leilão, realizado em 2015, teve como objetivo quitar uma dívida trabalhista de R$ 1,5 milhão do Tamoio com uma ex-advogada do clube, que exigiu reparação à Justiça do Trabalho ainda em 2004, ano que teve início o processo.


Segundo corretores consultados pelo Daki, só o terreno do Tamoio, de pouco mais de 8 mil m², vale por baixo R$ 10 milhões, avaliação feita antes do anúncio da intervenção urbana que será realizada pela Prefeitura, com a implantação do MUVI-BRS na Av. Presidente Kennedy.


O Clube Tamoio possui 8,5 mil sócios ativos, segundo a Diretoria.


Leia, abaixo, nota da Prefeitura de São Gonçalo sobre o caso:


A Prefeitura de São Gonçalo informa que não recebeu solicitação sobre quaisquer intervenções no Clube Tamoio. E vê com pesar os últimos acontecimentos envolvendo a venda do tradicional Clube Tamoio, palco de inúmeros eventos importantes para a história cultural e esportiva da cidade, tendo em vista as incertezas provocadas em relação ao seu destino. A gestão do prefeito Capitão Nelson vem acompanhando o caso e não irá se furtar em atuar em defesa da preservação do clube, área de lazer e entretenimento para milhares de famílias ao longo das últimas décadas, sempre pautado pelo respeito e devido cumprimento da legislação vigente. A Prefeitura espera um desfecho positivo em relação à questão, na certeza de que o Tamoio continuará vivo não apenas na memória do gonçalense.


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Atualizado às 18h04 de 22/10.




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