Um rosto intacto no Porto Velho, por Erick Bernardes

Foto: Erick Bernardes

Quem conhece a igreja de N. S. das Graças convive há tempos com a sua história e a da fonte milagrosa. Nós mesmos do Jornal Daki, noutro momento, já referimos a esse famoso e interessante mistério da fé. De quando inúmeros fiéis visitam a igreja em dia de aniversário da santa buscando bênçãos ou para prestar um ou outro tipo de agradecimento. Trouxemos dados de fundação, certos relatos históricos, e matérias antigas de jornais nortearam a narrativa. Mas e a história do rosto da santa você conhece? Então vamos ao caso.

Disse-me o secretário da capela que, em certo momento, parte da nave da igreja desabou. Sim, exatamente, a frente da construção teve suas bases encharcadas de tanta chuva, e isso provocou o desabamento frontal onde ficava o altar-mor.

A imagem de corpo inteiro da santa despencou de uma altura de mais de cinco metros e teria caído sobre o chão da seção da frente da igreja. Exatamente, um tombo daqueles, capaz de espatifar toda a imagem de porcelana e transformar sua frágil estrutura em caquinhos do tamanho de uma ou duas polegadas. Até aí tudo normal: porcelanas quebram, imagens ocas por dentro espatifam sim, natural quebrarem. Normal. Contudo, pasme, dizem as boas línguas que o rosto de louça da imagem de N. S. das Graças se manteve milagrosamente intacto. Isso mesmo, embora o tombo tenha ocorrido de altura imensa, a face da santa não teria sofrido arranhão algum. Coisa de embasbacar mesmo. Inacreditável. Narrativa para desbundar qualquer incrédulo.

Acaso o leitor tiver brotando em si a sementinha da dúvida, sugiro uma visita ao lugar. Olhe para a parede destacada da construção, encontra-se lá, majestosamente emoldurado, o rosto alvíssimo e sereno da santa católica. Incrível isso, só mesmo a face ficou para contar a história do antigo desabamento que derrubou o altar e parte da abóbada da igreja.

Erick Bernardes é escritor e professor mestre em Estudos Literários.