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Ciclistas se tornam referência em mobilidade urbana em SG



Há um consenso entre especialistas de diversas esferas de discussão sobre políticas públicas em áreas urbanas no Brasil de que o maior desafio a ser superado é a desigualdade social que ainda grassa nas grandes cidades. Logo em seguida, os mesmos especialistas elegem a problemática da mobilidade urbana como algo a ser pensado e racionalizado para a melhoria da qualidade de vida e promoção da cidadania.

Em São Gonçalo, um grupo de cidadãos reunidos na União Gonçalense de Ciclistas (UGC) entrou firme nos debates sobre mobilidade urbana na cidade e hoje é a principal referência quando se quer discutir o assunto, tendo sempre a bicicleta como ponto de partida.

Com embasamento técnico refinado adquirido em diversos encontros sobre o tema, tanto no Rio quanto fora do estado, a UGC cava o seu espaço e divulga suas ações e ideias nos eventos que promove no município e em suas redes sociais na esperança de finalmente poder criar uma ponte de interlocução com o poder público.

O Jornal Daki entrou em contato com um dos coordenadores da UGC, Charles Gomes, e realizou uma entrevista que você confere abaixo.

Jornal Daki: O que é a UGC?

Charles Gomes: A União Gonçalense de Ciclistas-UGC é uma organização da sociedade civil de ciclistas da cidade São Gonçalo, sem fins lucrativos, foi criada da necessidade de organizar, apoiar e defender o uso da BICICLETA como forma de locomoção diária e contribuir para termos uma cidade com uma mobilidade urbana eficiente.

Jornal Daki: Como, quando e em que contexto ela surgiu?

Charles Gomes: A UGC foi criada em Junho de 2016, para promover a Campanha Nacional da Bicicleta nas Eleições, criada pela União de Ciclistas do Brasil - UCB com objetivo de fomentar o debate da MOBILIDADE URBANA por BICICLETA junto aos candidatos do Executivo e Legislativos, e em São Gonçalo a UGC realizou encontros com alguns candidatos ao executivo, apresentando esse tema. A partir dessa ação percebemos que nossa cidade estava muito atrasada ao tema e decidimos continuar na luta por uma cidade com mais mobilidade urbana ativa.

Jornal Daki: A UGC conta com quantos membros hoje?

Charles Gomes: Então, o papel da UGC é de contribuir com o poder público para que possa ser oferecido o mínimo de infraestrutura cicloviária para aqueles que usam a bicicleta no dia a dia. Muitos que andam de bicicleta pelas ruas de SG nem sabe que estamos nessa luta. A maioria dos ciclistas que conhece a UGC só quer saber de usar a bicicleta para atividades de lazer fora de SG, mas eu e os amigos Clair Pessanha e Eduardo Farias estamos juntos buscando contribuir para a construção de uma São Gonçalo mais ciclável e humana.

Jornal Daki: De acordo com as experiências mundo afora, observa-se que a cultura da 'bike' e posterior instalação de ciclovias e ciclofaixas tiveram sucesso em países desenvolvidos e onde a cultura do automóvel não é tão forte, como nos EUA ou mesmo o Brasil. Veja a experiência de São Paulo, onde parte considerável da sociedade esperneou contra a política de ciclovias nas ruas paulistanas. Como superar isso?

Charles Gomes: A construção de ciclovias em São Gonçalo (e em qualquer outra cidade brasileira) é uma iniciativa que representa um enorme passo em direção a uma cidade mais justa, mais inclusiva e mais democrática.

Na construção de ciclovias, deve-se observar: Construir ciclovias e reduzir limites de velocidade significa preservar vidas, pois a bicicleta é frágil frente ao tamanho e velocidade dos demais veículos nas ruas. Ciclovias promovem ocupação do espaço público, tornando-o espaço de convivência e não apenas de passagem. Espaços ociosos, pouco frequentados e abandonados pelo poder público e pelos cidadãos têm maior índice de criminalidade. Por isso, investir na bicicleta aumenta a segurança pública.

Ciclovias são boas para o comércio, pois ciclistas são clientes potenciais que passam em baixa velocidade e não exigem grandes áreas de estacionamento, podendo facilmente parar em frente a uma vitrine, entrar numa loja, conhecer um serviço. Há demanda pelo uso da bicicleta em São Gonçalo.

Grande parcela da população de São Gonçalo só adotará a bicicleta em seus deslocamentos a partir da proteção oferecida por áreas segregadas. O uso da bicicleta é benéfico à saúde dos cidadãos, pois o simples fato de usar a bicicleta como transporte os afasta do sedentarismo e de todos os problemas de saúde deles decorrentes. O uso da bicicleta melhora a qualidade de vida de quem a utiliza, não só pelo ganho em saúde mas também pela diminuição do stress, melhorando os relacionamentos interpessoais e humanizando o trânsito e a cidade.

As ciclovias proporcionam uma retomada do uso das ruas pelas crianças, sendo uma opção de lazer que resgata uma faceta da infância há muito esquecida nas regiões mais urbanizadas da cidade. Quem opta pela bicicleta economiza tempo, sobretudo nos horários de pico.

A bicicleta traz economia para o cidadão, pois os custos com compra, utilização e manutenção são muito menores que o do automóvel. O uso da bicicleta é benéfico à cidade, por ser um meio de transporte não poluente.

A bicicleta é um veículo silencioso e sua adoção em maior escala trará uma diminuição da poluição sonora da cidade.

A construção de vias para bicicletas tem um custo muito menor que a de vias para veículos motorizados. O incentivo e a garantia de uso seguro da bicicleta democratizam o deslocamento. Todos os cidadãos são importantes para uma cidade, não apenas os que se deslocam em automóveis e essa mensagem é passada claramente com a construção de ciclovias, Ciclovias atuam no sentido de reduzir os congestionamentos e a lotação dos transportes públicos, ao passo que cada vez mais pessoas troquem suas opções de deslocamento pelas bicicletas, ainda que eventualmente.

Iremos superar as criticas através de ações em conjunto com o poder público, apresentando as vantagens de se ter uma cidade com infraestrutura cicloviária.

Jornal Daki: As vias urbanas principais de SG são estreitas. Porém, a cidade possui vias secundárias e a faixa da antiga via férrea, hoje invadida ou utilizada como estacionamento. Como seria na cidade a implantação dessas ciclovias?

Charles Gomes: Geograficamente temos condições de implementar infraestrutura cicloviária em nossa cidade, algumas vias podem receber ciclofaixa e outras ciclorrotas, sendo que na faixa da via férrea do clube Mauá até o clube Tamoio, pode ser feita uma grande obra de urbanização nunca feita em São Gonçalo, colocando uma bela ciclovia compartilhada com o pedestre, uma calçada dentro dos padrões para a acessibilidade e mobilidade das pessoas, uma grande área de convivência. Todo o movimento que acontece na famosa Rua da Caminhada, estaria acontecendo no Centro da cidade, em um espaço totalmente urbanizado e sem contar na valorização dos imóveis. Com isso o poder publico estará valorizando de fato quem mais merece ser valorizado: as pessoas.

Jornal Daki: A UGC ou vocês pessoalmente buscam onde o conhecimento e o embasamento técnico para fazer esse debate?

Charles Gomes: Participamos de quase todos eventos sobre Mobilidade Urbana no Rio de Janeiro, além de parcerias com algumas instituições que estão nos ajudando com embasamento técnico. Para você ter uma ideia, temos parceria com a Secretaria de Transporte do Estado, através do Coordenador do Programa Rio Estado da Bicicleta, Ong Transporte Ativo, Programa Niterói de Bicicleta, Casa Fluminense. Estive ano passado em Curitiba a fim de conhecer como tudo começou em relação a implantação das infraestruturas cicloviárias e no mês passado estive em São Paulo para participar de uma roda de debates sobre as ciclovias da cidade. Enfim, sempre que dá estamos nos qualificando para ajudar a cidade.

Jornal Daki: As ciclovias carregam uma marca 'elitista' pra muita gente. SG tem um perfil socioeconômico baixa renda. Como 'quebrar' essa visão elitista e promover o debate das bikes para o perfil dessa população, até para obter mais apoio?

Charles Gomes: As ciclovias carregam uma marca 'elitista' em São Paulo, no Rio de Janeiro não existe isso. Em São Gonçalo há uma demanda muito grande do uso da bicicleta como meio de transporte e até mesmo como lazer, grande parcela da população só adotará a bicicleta em seus deslocamentos a partir das ciclovias prontas porque vai proporcionar uma retomada do uso das ruas pelas crianças, sendo uma grande opção de lazer, coisa que infelizmente nossa cidade está muito carente, porque espaços ociosos, pouco frequentados e abandonados pelo poder público e pelos cidadãos têm maior índice de criminalidade.

Jornal Daki: Como anda o diálogo com o poder público daqui de SG?

Infelizmente não conseguimos chegar neles, mas nossa hora vai chegar, pois é uma questão de tempo. (risos)

O poder público atual precisa ver que Mobilidade Urbana não é só colocação de sinal, operação tapa buraco... É muito mais que isso.

Jornal Daki: Existe alguma cidade com o perfil de SG que tenha implantado o sistema de ciclovias?

Charles Gomes: Essa luta por cidades com mais MOBILIDADE URBANA através da bicicleta é nova para algumas cidades. Para você ter uma ideia, o município do Rio de Janeiro só tem 20 anos de luta por ciclovias, nossa vizinha Niterói tem apenas 06 anos de implementação de ciclovias, ciclofaixas e ciclorrotas. Ano passado que eles terminaram a elaboração do PLANO DE MOBILIDADE DA CIDADE. Nós só estamos há dois anos levantando essa bandeira em SG. Tem muita coisa ainda pela frente.

Jornal Daki: Tem mais alguma coisa que queira falar ou que deixamos de perguntar?

Charles Gomes: Eu só tenho que agradecer por essa oportunidade, pois a imprensa é uma parte muito importante nessa causa. Vocês são nossas vozes aonde ainda não conseguimos chegar. Estarei sempre a disposição para conversar sobre o tema.


Ele, Charles Gomes

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