A Morada do Amor - por Paulinho Freitas
- Jornal Daki
- 20 de set. de 2023
- 2 min de leitura
SÃO GONÇALO DE AFETOS

Marinete nasceu para ser livre. Para amar e ser amada, quando, onde, como e com quem quiser. Ela nunca deu ouvidos a vizinhança que ao vê-la passar pela manhã para ir ao trabalho, toda elegante e perfumada, comentava em sussurros olhando de rabo de olho, fingindo não a ver: _Piranha! Diz que trabalha em banco. Só se for em banco de praça!
Os meninos da rua babavam e os banhos da tarde eram demoradíssimos. Os homens tinham o cheiro de Marinete impregnado nas mentes pecaminosas. No fundo tinham medo dela. Numa época em que a mulher mal podia dar opinião sobre qualquer assunto, Marinete era o assunto. Morava só, independente financeiramente, de alma e coração.
Eu, moleque na época, agora entendo o porquê que Mauricio, atrás dos óculos de grossas lentes ficava petrificado ao vê-la passar. Era amor. O maior e mais avassalador amor que São Gonçalo já viu.
Numa festa de réveillon na rua, com todos os vizinhos confraternizando, Maurício tomou o primeiro porre de sua vida, com isso a coragem veio à tona e ele se declarou a Marinete. Ela achou graça daquele fedelho e disse-lhe que gostava de homem e que no dia em que ele se transformasse em um, ela casava com ele.
Todos estranharam o fato de que no primeiro raiar de sol do primeiro dia útil de janeiro Maurício já estar de pé. Daquele dia em diante viveu para tomar conta dos negócios da família que de uma pequena mercearia evoluiu para imóveis alugados, vários mercados espalhados pela cidade, caminhões, e até barcos. Maurício construiu um império.
Quando fez 30 anos, Marinete já tinha 45 e ele foi cobrar a promessa feita por ela a tantos anos atrás. Marinete não quis acreditar que aquele menino, agora um homem, tinha guardado realmente um grande amor por ela. Mesmo sabendo que ela já tinha tido diversos casos amorosos, inclusive com pessoas de seu círculo familiar, Maurício não quis saber de nada. Propôs casamento, de papel passado e tudo. Dali por diante seria como ela tivesse nascido de novo e ele fosse seu primeiro e único namorado.
Ela ficou perdida, sem saber o que dizer ou o que fazer. Mesmo com toda a família contra, mesmo com a mãe gritando que morreria de desgosto vendo o filho se casar com uma “piranha”, Maurício e Marinete contraíram núpcias num sábado de primavera mais lindo que São Gonçalo de Amarantes já viu. Ela não podia lhe dar filhos, adotaram um casal.
Hoje, aos setenta anos, Marinete não acredita, quando acorda de madrugada e se vê com a cabeça repousando no peito de Maurício. Ela acorda todas as manhãs com um beijo e um “bom dia meu amor. “
Depois de uma história verídica dessas, como alguém pode dizer que o amor não existe?
Existe sim, e mora num bairro com o sugestivo nome de Paraíso.
Como diz meu querido amigo e parceiro Felipe Filósofo: _Salve os afetos!
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.
