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A Viagem - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS



Foto: Pixabay
Foto: Pixabay

Era manhã de primeiro de janeiro, uma “bicha” saiu do pronto socorro central gritando: _Ele morreu! _Ele morreu! As pessoas que passavam e as que estavam na parada do ônibus riam daquela cena e daquela pessoa, que em seu desespero corria atrás da esperança do acontecido ter sido um sonho. Não conhecia a pessoa que gritava e não conhecia a pessoa que naquele momento partia para uma viagem sem volta, mas fiquei com um aperto no peito danado.


Essa imagem não me saiu da cabeça. Já se passaram quarenta anos. Aquelas pessoas que estavam zombando da “bicha” certamente tinham um amigo, conhecido ou parente que estava comprando a mesma passagem para a qualquer momento partir na mesma viagem.


Podem ter ficado caladas na fatídica hora, podem ter chorado alto em desespero, podem ter tido a frieza de simplesmente aceitar o caminho natural de todos nós e seguir esquecendo pouco a pouco da pessoa que partiu.



Aquela pessoa que lá no pronto-socorro central jazia sobre aquele mármore frio sou eu, é você, somos nós em um só. Aquela outra que gritava em desespero, também. O sofrimento é o mesmo. É sem explicação. É adaga entrando pra mais de metro peito adentro.


Segunda-feira acordo com a notícia de que Marcos Madeira pegou sua passagem e sem se despedir de ninguém partiu. Encontrei com ele e a Tânia dia desses, dei um abraço de muita saudade e, sem saber, que era uma despedida. Estou sem saber o que fazer, pensar, ou o que dizer.


Quero ficar quieto, ruminando memórias, voltando no tempo e vivendo de novo toda aquela tardia adolescência. Por dentro, sou aquela “bicha” correndo em desespero pela rua com as pessoas rindo de mim e eu gritando: _Ele morreu! _Ele morreu!!!!!


Adeus Pantopolista! Contrário dos contrários, porque o contrário sempre vai contrariar alguém é pra isto que se faz arte!


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.



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