Cilada - por Paulinho Freitas
- Jornal Daki

- 13 de out de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de dez de 2021
SÃO GONÇALO DE AFETOS

Dia desses conversando com um amigo ele me disse a seguinte frase:
_ Todos os dias sai um cara de casa pra comprar um Gordini e todos os dias sai um cara de casa para vender um Gordini. Se os dois se encontram é negócio fechado na certa!”

Pois é. Saí de casa, não para comprar um Gordini, mas um perfume. Na loja fui informado que o perfume que eu queria saiu de linha e a vendedora, exímia por sinal, conseguiu me vender outro um pouco mais caro, até aí nada demais, estava mesmo precisando do perfume, paguei no cartão, dividi em quatro vezes sem juros. Um bom negócio.
Ao sair da loja uma senhora com uma receita nas mãos chorava de soluçar me pedindo um trocado para ajudar a comprar os remédios para o neto. Dei a ela um pouquinho do que eu tinha, ela ficou muito feliz, parou de chorar e saiu rindo quase de gargalhar, acho que completei o que faltava. Essa pandemia fez o rico ir pra classe média, a classe media ficar pobre e o pobre ficar miserável.
Alguns não dão o braço a torcer, comem banana com pão, mas acham que o PIB aumentou, a bolsa valorizou e o dólar em alta favoreceu as exportações e o país está ótimo. Vai entender...
Mas voltando ao assunto, continuei andando até a Praça do Rodo, onde mais uma vez fiquei observando aquele obelisco, que agora, depois de grafitado pelo Eco ficou bem bonito. Minha intenção era ir até a banca de jornal do meu amigo Aldo Serpa, cumprimenta-lo e fazer o retorno como os bondes faziam antigamente e voltar para o meu sacrossanto lar. Antes de chegar à banca ouço alguém me chamar pelo nome:
_Paulino Freitas, meu compositor! Que saudade de você irmão! Ainda bem que te encontrei. Tenho que ir em Alcântara resolver um assunto e meu cartão de passagens não passou, nem sei porque. Estou precisando de oito reais para poder ir lá. Me empresta aí que quando eu voltar passo lá na sua casa e te devolvo.

Respondi que só tinha vinte reais inteiro, precisava trocar o dinheiro. O sujeito pegou a cédula dizendo que iria na banca para trocar. Fiquei esperando e enquanto esperava sentei naqueles bancos e fiquei olhando as pessoas passando e pensando nas histórias de vida de cada uma delas. Cada pessoa é um livro que anda. Achei bonito isso. Um livro que anda...
Absorto nos pensamentos nem vi o tempo passar, quando dei por mim quarenta minutos já haviam se passado. Olhei para a banca e nada do cara, o Aldo também não estava lá. Talvez o cara teve dificuldade para trocar o dinheiro e foi a outro lugar. Fiquei ali por uma hora e meia, aí me liguei que nunca tinha visto aquele cara na minha vida, estava eu com a camisa do GRESU Porto da Pedra, onde nas costas consta o seguimento a que pertenço e meu nome. Fui um besta mais uma vez.
Para completar ainda esqueci o perfume em cima do banco enquanto procurava o cara. Ainda bem que ao voltar ele ainda estava lá. Menos mal. Mas os vinte reais, adeus! São Gonçalo é de Afetos, mas também não é para amadores. Alguém quer comprar um Gordini aí?

Paulinho Freitas é compositor, sambista e escritor.














































































Paulinho Freitas é uma personalidade,um artista ,um homem raro....Feliz daquele que tem a felicidade de cruzar seu caminho , receber sua atenção ,seu abraço ,seu afeto.Eu sou um desses...Graças a Deus.
Rui Cortez.