Exemplos II - por Paulinho Freitas
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Meu amigo Romero é desde a infância uma pessoa de difícil trato. Na nossa época tudo com ele se resolvia na porrada, não tinha papo. Os garotos da rua de cima, apesar de maiores que nós não tinham coragem de encarar o Romero. O pai dele ficava orgulhoso de ver o filho temido por todos. Os vizinhos tinham pavor dele. Mal educado e abusado não gostava de ser chamado atenção que xingava todo mundo e se alguém fosse reclamar com seus pais então, aí é que o caldo engrossava mesmo, ô família difícil.
Romero cresceu, fez concurso para a PM e passou entre os primeiros colocados. Quando ele estava fazendo ronda pelo bairro no carro da corporação era um tal de tapa na cara de um, chute na bunda do outro e por aí vai. Humilhava até trabalhador que naquele tempo era obrigado a andar com a carteira de trabalho assinada. Se esquecesse da carteira em casa era preso por vadiagem e Romero não perdia a oportunidade de mostrar quem é que mandava.
Casou-se com Romilda e fez da vida daquela mulher um verdadeiro inferno, ela só podia andar de cabeça baixa e sem falar com ninguém sem a autorização dele. Quando o filho nasceu descarregou uma arma atirando para cima na frente do hospital assustando todo mundo, inclusive sua esposa que lá estava internada. Fez questão de por o nome de seu pai no menino para que o moleque não se esquecesse de suas origens.
O moleque cresceu como o pai e logo aos quinze anos ganhou uma motocicleta e aos dezoito um carro e passava pela nossa pacata rua em alta velocidade com o escapamento aberto fazendo um barulho ensurdecedor. Nos finais de semana juntava-se com uns colegas vindos da zona sul a cada bar ou clube que passavam deixavam o rastro da maldade, batiam sem dó em quem estivesse pela frente e ninguém podia fazer nada, o pai agora de patente alta defendia o rebento de todas as formas. O menino fez prova diversas vezes para ingressar na PM, mas não conseguiu passar, mesmo assim tirava onda de policial onde estivesse.
Minha avó sempre dizia; “aprenda com os conselhos que te dou porque se não a vida ensina e ela ensina batendo.”
Pois é, numa noite assaltaram o posto de gasolina, o filho de Romero e seus amigos estavam lá e um tiroteio foi travado, no final da batalha dois corpos no chão, um assaltante e um inocente que bebia no posto. Quando a polícia chegou identificou um dos cadáveres como o filho único de Capitão Romero que avisado chegou ao local fora de si, abraçado ao corpo do filho jurava vingança, mataria a família do assaltante desde o mais velho até o último saído do ventre e mataria a mãe deste também para que nunca mais se ouvisse falar num descendente seu. Um dos policiais abraçou o capitão num ato de conforto e lhe disse:
_Capitão, nem sempre a vida nos preserva um final feliz e o destino engana a gente, nem sempre o que se vê é a realidade.
_O que diz rapaz? - Indagou o capitão.
O policial respondeu:
_Na verdade capitão, o assaltante era seu filho.
Meu amigo Romero ficou mudo e paralisado, sem conseguir dizer palavra. Até hoje não se recuperou, entrou em depressão profunda, deitado em seu leito vegeta. Sem nenhum problema de saúde no corpo a mente foi para lugar incerto e não sabido.
Os exemplos estão aí para serem dados e serem seguidos, que façamos as escolhas certas dando e seguindo.
“Quando a cabeça não pensa o corpo padece.”
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.