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Gaspar - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS

Júpiter/Foto: Acervo da família
Júpiter/Foto: Acervo da família

Este da foto é o Júpiter. Ele chegou em nossas vidas num sábado de dezembro há quatro anos. Sua mãe, a Andrômeda o deixou cair, ainda bebê, num vão entre dois prédios e por um milagre sobreviveu. Seu pai, o Gaspar, não teve a mesma sorte, foi sacrificado numa sexta-feira treze. Por ser gato, por ser lindo, por ser preto e tido como bicho de mau agouro.


Gaspar foi acolhido por Marilda ainda bebê. Francisco, seu marido não era de acordo, mas quando a amada quer alguma coisa ela sabe convencer, todas sabem. Ah mulheres! Gaspar cresceu cheio de mimos e dengos. Saía às noites atrás de romances e numa dessas ocasiões conheceu Andrômeda com quem viveu até o dia de seu último suspiro.


Em uma noite de inverno, alguns anos depois de sua chegada, Marilda foi internada com forte crise respiratória e Francisco com sérios problemas no fígado também foi hospitalizado e numa sexta feira 13 de agosto o casal pulou o muro para o outro lado de nossa dimensão. A culpa recaiu sobre Gaspar por ser gato, por ser lindo, por ser preto e tido como bicho de mau agouro.


Ninguém atentou para o detalhe de Marilda fumar três maços de cigarros de filtro amarelo durante toda sua vida e Francisco ter passado os últimos anos naquela varanda fumando outros três maços de cigarros e bebendo uma garrafa de vodka por dia. Gaspar, coitado, pagou pela ignorância das pessoas.


Nesses últimos tempos ando meio sufocado com os seres humanos, temo pela vida do Júpiter e cuidamos aqui em casa para que ele fique em segurança não saindo de jeito nenhum. Mas não tem jeito, a maldade humana não tem limites. O ser humano mata seu semelhante a qualquer hora e em qualquer dia.



Uma criança brincando dentro de casa foi baleada e morreu, uma grávida saindo de casa para visitar um parente também baleada e morreu, Um homem chegando do trabalho pegando a chave de casa na mochila também foi baleado e morreu, um rapaz cobrando seu suado salário levou uma surra tão forte que não resistiu e morreu, outro dirigindo um carro que a sociedade acha que ele não tem direito de ter levando a família para uma festa teve o carro metralhado e morreu, assim como um morador de rua que tentou ajudar, morreu também crivado de balas e por último, um rapaz vendendo balas no terminal das barcas levou um tiro no peito e também morreu.


Pra morrer Basta estar vivo ou ser preto, ser gato, ser lindo como todo preto é, e afrontar a casa grande com capacidade, inteligência, poder e patrimônio, por menor que seja. Se der sorte, pode ser preso indo comprar pão, pois preto, gato e lindo, na padaria, é estar no lugar errado na hora errada.

Não vamos esmorecer nas cobranças!


Protejamos nosso Brasil!


Ele é preto, é gato e é lindo!!!!!!

 

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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.






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