O descuido mata o 'nosso jardim'

Por Rofa Rogério Araújo 

Foto: Reprodução

O grande poeta Mário Quintana deixou um frase que nos leva a muita reflexão: “O que mata um jardim não é o abandono. É o descuido que se tem todos os dias”. E parece uma grande verdade trazendo para a vida.

A frase significa que a falta de atenção e cuidado constante com um “jardim” é mais prejudicial do que o abandono total. Ou seja, deixar de regar, podar, adubar e proteger as plantas diariamente causa mais danos do que simplesmente não cuidar dele por um período. O abandono total pode ser temporário e o jardim pode se recuperar, mas o descuido constante leva à deterioração gradual e irreversível. 

Mário Quintana usa o jardim como uma “metáfora para a vida” e às suas relações. Assim como um jardim precisa de cuidado diário para prosperar, nossas relações e projetos também precisam de atenção e dedicação constante para se manterem saudáveis e florescentes. O descuido, a falta de atenção e a indiferença podem ser mais destrutivos do que a ausência total de cuidado em certos momentos. 

O destaque é a importância da atenção e do cuidado constante, mostrando que a negligência gradual pode ser mais prejudicial do que a ausência total de cuidado por um tempo. É preciso estar atento aos detalhes, às pequenas coisas, para que o jardim (ou a vida) não adoeça e morra.

E a amplitude dessa citação é tão grande que engloba reações conjugais quando um não pode abandonar ou descuidar do outro, senão o “jardim”, o relacionamento, o amor podem definhar e morrer. Isso vale para o relacionamento familiar, os pais e filhos, por exemplo. Como pode entre pai ou mãe não existir um convívio e ensino constante? Pode acabar sendo esquecido e prejudicar essa tão importante educação no núcleo da família.

Um outro adágio muito utilizado até mesmo no meio profissional e que reflete bem esse mesmo tema: “Quem não é visto, não é lembrado”. Porque destaca a importância da visibilidade e da participação ativa. Seja em um contexto social, profissional ou até mesmo digital, a exposição e a interação são cruciais para manter a relevância e a memória na mente das pessoas.   

Imagine alguém que quer ser lembrado, mas não age e, simplesmente, se afasta ou se faz tão presente assim para que todos o conhecem e reconheçam. Também a frase pode ser interpretada como um lembrete de que a presença física ou a comunicação constante são necessárias para manter laços e conexões. Quando alguém se afasta, a tendência é que outras pessoas se adaptem à ausência e sigam em frente, tornando a volta mais difícil. 

Em outras palavras, se alguém não se mostra ou não interage regularmente, as outras pessoas tendem a não se lembrar dela ou dele com frequência. Isso pode se aplicar a relações pessoais, situações sociais ou até mesmo ao mercado de trabalho, onde a falta de presença pode resultar na perda de oportunidades. 

A tendência do ser humano é de adaptação. Quando perdemos um ente querido, mesmo após o período de luto, com dor profunda, a vida nos ensina a seguir em frente e passar a conviver sem a presença dessa pessoa. O mesmo ocorre da ausência de alguém vivo que se afasta de nós, por querer ou não. Pode passar até a ser desnecessário ao longo do tempo. Eis o perigo.

A Bíblia no ensina em Salmos 112:6: “Quem é correto nunca fracassará e será lembrado para sempre”. É necessário a presença na vida do outro para que sejamos fundamentais e não apenas uma lembrança do passado.  Ser alguém que deixa um legado, um exemplo.

Então, atente-se para tudo que fizer na vida par não permitir que o seu descuido mate o seu jardim ou sua vida em todos os aspectos.

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Rofa Araujo é jornalista, escritor (cronista, contista e poeta), mestre em Estudos Literários (UERJ), professor, palestrante, filósofo e teólogo.