Coisas que não entendo
- Jornal Daki
- há 14 minutos
- 3 min de leitura
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Por Paulinho Freitas

Delarey Pacheco foi criado na Igreja Católica. Foi coroinha, fez primeira comunhão e quando chegou a adolescência se descobriu. Ele não dava a mínima atenção para as garotas de sua turma, mas para os garotos era todo ouvidos e outras partes do corpo que eles quisessem usar. Pelos ensinamentos que teve, não conseguiu fingir diante das imagens e passava as missas de cabeça baixa. Conseguiu desabafar com um amigo de escola que o aconselhou a “sair do armário”. Além de estar sendo honesto com sua religião, iria se sentir muito melhor na companhia de sua verdadeira identidade.
Delarey Pacheco, apaixonado por futebol e luta livre, nunca correu de uma confusão, jamais iria declarar sua opção sexual. Ficou solteiro enquanto deu. Quando decidiu entrar para a vida pública, contraiu matrimônio com a fútil Margareth, que ligava mais para os cosméticos, tardes de fofoca no cabeleireiro do shopping e jogo de biriba regado a espumante com as amigas do que para o marido. Abraçou a Igreja Colossal do Reino de Lá como esconderijo. É pastor presidente, tem vários políticos que congregam em sua igreja, é muito respeitado nacionalmente, mas já está pegando mal passar a maior parte do tempo em BrascOISAília, acompanhado de seu assessor e fiel escudeiro numa enorme mansão e só vem em casa, às vezes uma vez por mês. Vai entender!
Aurélio Miguel tem vinte e oito anos. Desde os quatorze trabalha no comércio do pai. Levanta às cinco da manhã e não tem hora pra dormir. É contra os benefícios que o governo dá aos menos assistidos, diz que só favorece aos vagabundos e o lema de vida é : “bandido bom, é bandido morto”.
No sábado a noite, calça o tênis de quase dois mil reais, a roupa custa quase cinco mil, calça e camisa. Cordão, pulseira e anéis de ouro além de um carro que faz inveja a todos os amigos, vai para o baile funk da comunidade, beber destilado com energético, fumar narguilê, usar outras substâncias ilícitas e brigar sem motivo com o pessoal da outra rua. Alguém me explica?
Por último quero falar de Anídia Lima. Ela trabalha numa empresa de comunicação. Tem cargo de chefia. Adora humilhar os subalternos e todas as pessoas, que na visão dela, estão em posição inferior na vida. Caixas de mercado, balconistas de loja, o pessoal do salão, todos devidamente mal tratados a bem de sua disciplina. Acontece que o diploma que deu a ela o direito de estar onde está, não tem lá uma procedência muito licita não . Seu marido tem uma empresa de recicláveis que compra material sem procedência e vende peças de automóveis usadas sem saber de onde veio. Frequentam a Igreja de Delarey Pacheco, mas qualquer dor de barriga, correm pra casa de dona Arlete para aquela benzedura com galhos de arruda e Guiné.
Por enquanto é só. A minha amiga que recebe bolsa família, vale gás, o filho tem pé de meia e mora de aluguel social eu já desisti de entender. Ainda mais porque ela vota no candidato mais bonitinho, mesmo que ele ache que a mulher tem que ganhar menos porque engravida. E nem bonito ele é.
Eu desisto!
Nos siga no BlueSky AQUI.
Entre no nosso grupo de WhatsApp AQUI.
Entre no nosso grupo do Telegram AQUI.
Ajude a fortalecer nosso jornalismo independente contribuindo com a campanha 'Sou Daki e Apoio' de financiamento coletivo do Jornal Daki. Clique AQUI e contribua.

Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor


















































