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Lembranças do Dia de Cosme e Damião - por Carlos Turque

Especial *Carlos Turque

Foto: Dório Victor/Diário do Rio
Foto: Dório Victor/Diário do Rio

Primeiro, é importante situar o lugar de onde vem as minhas memórias: criança / pré-adolescente, morador de São Gonçalo e estudante da escola pública.


Os preparativos começavam um dia antes: esvaziar as mochilas para que coubesse o maior número de saquinhos de doces possível, verificar se algum vizinho daria o famoso cartãozinho na véspera e ouvir as orientações dos mais velhos: "cuidado com os carros nas ruas", "não vá para muito longe", "se alguém te chamar para entrar em algum lugar estranho, não vá", etc.



Depois de uma noite de sono ansiosa, acordávamos no dia 27 de setembro. Mandamento inicial: neste dia não se ia para a escola. Era consensual, pois tínhamos o aval das nossas famílias e a compreensão das nossas escolas. Eu tomava um café com leite e comia um pão com margarina (que chamávamos, por força do monopólio, de Claybon). Estava pronto pra batalha!


Saíamos em grupo para as ruas à procura das tradicionais casas em que se davam doces e, também, tentávamos descobrir potenciais lugares. Quando víamos alguma casa com muita gente na varanda já desconfiávamos e ficávamos à espreita. Às vezes, era alarme falso. Outras vezes, era uma grata surpresa e valia a pena esperar.


Eu procurava dar prioridade às casas que davam os cartões, pois geralmente, eram os melhores doces. Mas, para ser justo, o melhor saquinho de todos era o do centro espírita que tinha na minha rua. Era o único dia do ano em que eu e meus amigos perdíamos o medo de entrar lá. Aliás, sempre foi um medo bobo, pois o proprietário da casa e do centro era um sr. muito gente boa e que nunca fez mal a nenhum de nós. Até hoje lembro dele com carinho.




Lembro que eu ficava com raiva quando via crianças correndo atrás de doces juntos com suas mães ou seus pais. Achava jogo sujo, covardia. Levávamos a pior quando tínhamos que disputar com esses "filhinhos da mamãe". Mas, a vida tinha que seguir. Lembro da felicidade que sentia quando via a mochila abarrotada de saquinhos de doce. Tinha que correr em casa, colocar tudo nas bacias e voltar pras ruas com a mochila novamente vazia.



Era muito divertido. Um dia especial! Eram momentos de encontros, esbarrões, corridas, disputas, olhares que forçavam um sofrimento para sensibilizar os doadores.... Chegava ao final do dia morto de cansado, suado e com as pernas doendo. Mas, as bacias ficavam repletas de delícias açucaradas: doce de abóbora, doce de amendoim, maria mole, cocada, pé-de-moleque, "cocô de rato", suspiro, mariola, balinhas, etc. Duravam por dias.


Boas lembranças! Boas memórias, que guardo com carinho. E, hoje, sou grato a todos os adultos que proporcionaram a mim e a todas as crianças da minha época esses "27 de setembro" tão especiais.


Carlos Turque é professor.


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