Quiosqueiros gonçalenses têm sonhos violentados no governo Nelson
- Jornal Daki

- 27 de dez. de 2022
- 3 min de leitura
Trabalhadores da Feira Nordestina, em Neves, estão impedidos de acessar os seus quiosques por decisão da Prefeitura
Especial Helcio Albano

Se pudéssemos escolher apenas um grupo de pessoas que mais sofreram na pandemia para representar toda a classe trabalhadora de São Gonçalo, não teria dúvidas: os quiosqueiros do Centro de Tradições Nordestinas Severo, Embaixador Nordestino, em Neves.
A escolha se dá por várias razões, mas uma delas transcende todas as outras, até as de cunho material: a perspectiva de um sonho que vira pesadelo. De acolhimento transformado em abandono do poder público com a humilhação do que se foi sem nunca ter sido, mas que tinha tudo para dar certo.
A Feira foi inaugurada em janeiro de 2020 pelo governo José Luiz Nanci cercada de expectativas e perspectivas. Erguida em cima de um lixão improvisado, o equipamento foi projetado com pretensões ousadas, de unir lazer, cultura e gastronomia regional numa cidade que tem mais de 1/3 de sua população de 1,2 milhão de pessoas composta por nordestinos natos ou descendentes diretos dessa gente forte e altiva do Brasil.
Era sucesso garantido de público, crítica e principalmente econômico. A primeira experiência de economia criativa da cidade que beneficiaria uma pujante cadeia produtiva composta por músicos, literatos, produtores, artistas em geral e quiosqueiros que, por contrato, deveriam oferecer exclusivamente produtos ligados ao artesanato, música e culinária nordestina.
Mas aí em março veio a pandemia da Covid 19. O decreto municipal de 13 de março fechou a Feira. O documento, até então, para toda a comunidade, apenas atrasaria o sonho e o desejo de se tornar a maior e mais animada Feira Nordestina do Rio. Com perdão de São Cristóvão, o que melhor gonçalense sabe fazer é festa. Ainda mais com matéria-prima e trabalhadores abundantes na cidade.
Então veio um novo governo. O governo do capitão Nelson (PL). Com uma turma que tinha uma ideia diferente na cabeça e ávida em fazer novos negócios.
As negociações com os quiosqueiros foram concentradas na Secretaria de Cultura, que não escondeu desde o início querer fazer um novo edital, com um novo modelo de contrato comercial.
As exigências da Secretaria foram se imbricando às dificuldades já enfrentadas pelos trabalhadores com a pandemia e com o fechamento da Feira, que inviabilizou qualquer tipo de movimentação financeira dos comerciantes.
Muitos foram desistindo no meio do caminho, mesmo com a mobilização de alguns vereadores e da sociedade civil em favor da reabertura da Feira, o que só aconteceria de fato neste ano, mas sem apoio concreto da Prefeitura aos comerciantes, a essa altura descapitalizados, endividados e esvaziados de representação, mesmo tendo uma associação que, segundo relatos, foi cooptada pela Secretaria de Cultura.
O golpe final, veio na manhã desta terça (27), quando um grupo de quiosqueiros viu um cadeado no portão que os impediu de acessar os seus locais de trabalho e continuar sonhando com o retorno do que foi sem nunca ter sido.
O nordestino e deputado federal eleito, Dimas Gadelha (PT), indignado com a decisão da Prefeitura, prometeu dar todo o apoio político e jurídico necessário aos quiosqueiros.
Assim como também há movimentação de entidades da sociedade civil - que devem entrar hoje ainda com um Mandado de Segurança - para reverter essa violência que não atinge apenas os quiosqueiros, mas toda uma ideia de gonçalidade que dá certo e que tantos nos orgulha.
Nenhum juiz dará continuidade a essa covardia da Prefeitura. O direito protege o ente mais fraco por eventos alheios à sua vontade. Neste caso, a pandemia.
O sonho não acabou!
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Helcio Albano é jornalista e editor-chefe do Jornal Daki.















































































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