Sonho ou Realidade? - por Cristiana Souza
![Reprodução internet](https://static.wixstatic.com/media/037a82_a5e3b6a90d8a4bd087380aba87b4cff1~mv2.jpeg/v1/fill/w_109,h_86,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01,blur_2,enc_auto/037a82_a5e3b6a90d8a4bd087380aba87b4cff1~mv2.jpeg)
Celeste acordou como de costume bem cedo, e rapidamente levantou para fazer o café e despertar para mais um dia da sua rotina e labuta.
Porém, contudo, todavia, ao pegar o celular para verificar a hora, levou um susto, pois já passava das 11h, e logo pensou: "Deu pane no celular! Cadê meus cachorros que não me chamaram"?
Percebeu que a casa estava num silêncio incomum; os cachorros não latiram, as crianças na casa do vizinho não choraram com a ida da mãe para o trabalho, não havia barulho de carros, transeuntes, nada… Tudo estava silencioso e atípico.
Correu no portão com esperança de ver alguma movimentação e mais uma vez, nada encontrou ou ouviu.
Por um momento pensou ter enlouquecido ou estar num daqueles sonhos, nos quais acordamos com a sensação de terem sidos reais.
Ao voltar para dentro da sua casa, pegou novamente o celular, mas dessa vez não para ver a hora e sim ligar para o primeiro contato que aparecesse na última conversa do whatsapp. Deu um suspiro de alívio, pois a última pessoa que havia falado foi com sua mãe desejando boa noite.
Com as mãos trêmulas fez a ligação, mas a mãe não atendeu. Ligou mais umas 13 vezes e não ouviu o "Oi minha filha, está tudo bem"? como de costume.
Desesperadamente ligou para todos os contatos telefônicos e ninguém atendeu. Fez um xingamento e atestou que dos muitos contatos salvos na agenda do celular, só tem proximidade com algumas pessoas.
Gritou mais alto que pôde, olhando para um céu plúmbeo, sem o canto dos pássaros, buscando resposta do que estava acontecendo. Fechou os olhos com força e, ao abri-los, tudo havia voltado a ser como todos os dias: cachorros latindo, cheiro de café, crianças fazendo manha, conversas dos vizinhos, rádio ligado, veículos e vidas passando pela rua…
Sorriu e agradeceu por ter sua rotina de volta; cansativa, barulhenta e repleta de um caos "previsível".
E não mais que de repente se deu conta que ainda estava deitada na sua cama quente, confortável e sendo uma pessoa privilegiada por não acordar com tiros de fuzil pela janela e com a polícia invadindo a sua casa e matando inocentes por serem negros, pobres e favelados.
A hora no celular mostrava 6h da manhã…
Teria sido sonho, realidade ou o mundo invertido de Celeste?
Ajude a fortalecer nosso jornalismo independente contribuindo com a campanha 'Sou Daki e Apoio' de financiamento coletivo do Jornal Daki. Clique AQUI e contribua.
![](https://static.wixstatic.com/media/037a82_3554c92935d54e1b897b66c646e0204b~mv2.jpg/v1/fill/w_130,h_130,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01,blur_2,enc_auto/037a82_3554c92935d54e1b897b66c646e0204b~mv2.jpg)
Cristiana Souza é assistente social.
![](https://static.wixstatic.com/media/037a82_6dd92fc1e76545ceb9238c2afb6fbd0d~mv2.jpeg/v1/fill/w_147,h_125,al_c,q_80,usm_0.66_1.00_0.01,blur_2,enc_auto/037a82_6dd92fc1e76545ceb9238c2afb6fbd0d~mv2.jpeg)