Vamos sorrir
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Por Paulinho Freitas

Este ano foi o meu vigésimo oitavo desfile pela minha amada GRESU Porto da Pedra. Confesso que nestes anos todos eu nunca tinha prestado atenção a minha volta, entrava tão cego, obcecado por fazer um bom desfile que só olhava para frente, cantando e tentando ajudar meus companheiros ou no carro de som ou na ala de compositores.
Este ano comecei a chorar pela manhã, ainda no trabalho, na saída de plantão. A cada pensamento no desfile as lágrimas já caíam. Ninguém nunca vai entender este sentimento, acho que nem nós, componentes, sabemos explicar isso. O dia passou arrastado, as horas pareciam rir de minha ansiedade e sentavam na minha varanda, bebendo uma cerveja conversando animadamente, sem pressa de ir embora.
A noite cai, já coloco minha roupa de desfile e vou pegar a condução para o sambódromo. A escola está linda, não contenho as lágrimas, vou andando pelas alas, as fantasias inteiras, bonitas, as pessoas felizes, os carros alegóricos bem acabados, tudo um capricho só. Todo mundo merecia um dia desfilando. A emoção é única. Passa um filme na sua cabeça, sua vida passa ali e você fica pensando, pra quê tanta ganância, ambição, arrogância? Por quê a vida não pode ser simples como o carnaval, trabalhar pela alegria da coletividade? Naquele lugar não tem pobre, não tem rico, ninguém tem adjetivo, todo mundo é igual. Todo mundo se abraça no final do desfile, ou vibrando porque foi um bom desfile ou se consola do porque as coisas não saíram do jeito planejado. Já vi até pessoas que há anos não se falavam se abraçando, emocionadas. Ali é um lugar mágico.
Este ano, como em todos os anos, passei cantando e vibrando muito, só que prestando atenção nas arquibancadas e camarotes, o povo interagiu com a escola, vibrava, cantava junto. Eu estava na última fila da última ala. Olhando para os camarotes percebi que quem faz aquela festa acontecer não adentra àquele espaço, mas passa lá em baixo, cantando, exalando felicidade avenida à fora. Por um momento lembro do Cais do Valongo, onde tantos irmãos escravizados foram enterrados, de quem apanhou e resistiu para que o samba, hoje , seja uma oração que une as pessoas.
No final do desfile olho para trás, a sensação do dever cumprido me dá alegria e paz. Vendo o choro emocionado das pessoas, os abraços e a vibração, comemorando um trabalho bem realizado me faz muito feliz. É como se esses irmãos do passado estivesses ali, comemorando conosco e gritando: “ AINDA ESTAMOS AQUI!”
“... É A PORTO DA PEDRA BRILHANDO, SÃO GONÇALO INTEIRO CANTANDO, O SONHO DE UMA CIDADE SE REALIZANDO. SÃO MÃOS APERTANDO OUTRAS MÃOS, EM BUSCA DO MESMO IDEAL: O TIGRE CAMPEÃO DO CARNAVAL.”
ASSIM SEJA!
Nos siga no BlueSky AQUI.
Entre no nosso grupo de WhatsApp AQUI.
Entre no nosso grupo do Telegram AQUI.
Ajude a fortalecer nosso jornalismo independente contribuindo com a campanha 'Sou Daki e Apoio' de financiamento coletivo do Jornal Daki. Clique AQUI e contribua.

Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.