De quequé
- Jornal Daki
- 6 de ago.
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de ago.
SÃO GONÇALO DE AFETOS
Por Paulinho Freitas

Ficar de quequé é uma gíria que quer dizer estar confortável, estar bem. Assim Rubão se sentia. Confortável e por cima da carne seca. Militar de patente, reformado, um bom salário e com a mulher que pediu a Deus: Submissa e cheia de amor pra dar. Rubão se emperequetava todo às sextas-feiras e ganhava o mundo.
Era roda de samba, gafieira, mesa de jogo até altas horas da madrugada. Voltava embriagado, com manchas de batom e pó de arroz na gola da camisa. Acordava Mariza, que era obrigada a levantar e pôr sua janta. Depois, satisfazia os caprichos sexuais do marido, que se lambuzava, trocava de roupa e dormia, a deixando de lado, como uma toalha molhada sobre a cama. Toda semana a mesma coisa.
Mariza nunca reclamou de nada. Se sujeitava calada aos maus tratos sofridos. Não tinha família e nem para onde ir numa separação. Morava com Rubão há quinze anos e ele nunca quis assumir no papel aquela união. Não queria dividir o que juntou a vida inteira no caso de uma separação. E olha que não era pouca coisa. Tinha imóveis e dinheiro aplicado, além de uma bela casa de moradia e um bom automóvel.
Naquela sexta-feira Rubão deu uma exagerada na bebida, chegou muito mal. Não tirou nem as roupas, só deu para tirar os sapatos. Dormiu pesado...
Lá pelas onze horas de um sábado chuvoso os gritos de Rubão chamando Mariza ecoaram por toda a vizinhança, sem nenhuma resposta. Procurou pela casa inteira, quintal, jardim e nada. Olhou na garagem e tomou um susto. O carro não estava lá. Teria ele deixado o carro na rua? Não conseguia lembrar. Voltou ao quarto e ao abrir o guarda-roupas viu que as roupas de Mariza não estavam lá, nem uma mísera calcinha. Custou a atinar que ela o havia abandonado. Alguém toca a campainha, quando ele atende, recebe a notícia de que não é mais proprietário do imóvel, o que o deixa atônito, sem chão.
O telefone toca, é o gerente do banco perguntando o por que ele baixou todas as aplicações e sacou todo o saldo deixando a conta devedora. Ele quase infarta e antes que pudesse tentar entender o que estava acontecendo, o caseiro do sítio liga perguntando quando receberá sua indenização, tendo em vista que ele havia vendido a propriedade, de porteira fechada, sem comunicá-lo, deixando-o na rua. Rubão desmaia.
Quando acorda está no hospital geral, numa enfermaria, começa a raciocinar. A princípio pensou estar sonhando, mas depois foi aos poucos caindo na real. Mariza o havia roubado e fugido com seu dinheiro. Iria caçá-la até o fim do mundo e fazê-la devolver cada centavo.
Ocorre que ele, ao assinar a documentação vinda do contador para o imposto de renda, assinou também uma procuração, dando plenos poderes a Mariza sobre tudo o que possuía. Mariza levou muito tempo, vendendo bens, baixando aplicação e transferindo valores, raspou até seu último pagamento, assim que caiu na conta.
Mariza passou a vida sendo humilhada, agredida física e psicologicamente por Rubão e agora estava vingada. Enquanto Rubão andava atrás do rabo feito um cão louco, Mariza mergulhava, perto da Ilha do Arroz com o contador, seu cúmplice e amante durante todos esses anos. Mariza está de quequé.
Que todos os machistas, fascistas e feminicidas, tenham o mesmo fim e que jamais encontrem nem o próprio rabo para morder.
E tenho dito!
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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor
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