Óbvio ululante, por Helcio Albano

Um amigo meu da época de faculdade, numa das milhares de rodadas de cerveja no Bar da Frente disse, do alto de sua sabedoria de botequim: ‘Gênio é aquele que consegue demonstrar o óbvio’. E eu hoje completaria: cínico ou canalha é quem não reconhece o que é ululante. Juntando Óbvio e Ululante, daríamos numa espécie de existência nelson-rodrigueana, mas aí seria demais a essa coluninha...

O Bolsonaro é bolsonaro desde sempre, portanto não deveria causar perplexidade a tosquice do seu ser e a repugnância dos seus atos. Citarei de memória e de modo aleatório sua biografia longe de ser completa:

Nos anos 1980 tramou atentados terroristas em instalações do Exército e em pontos chaves do Rio em protesto contra baixos salários. Depois de julgamento nebuloso foi para reserva aos 33 anos como capitão recebendo os proventos;

Com essa ‘plataforma’ de insubordinação foi eleito vereador e depois deputado federal, e em todos esses mandatos (28 anos), apresentou 171 projetos de lei e só aprovou 2 propostas que ninguém lembra;

Defende milícia e tortura, é racista, preconceituoso, misógino, nepotista;

Nacionalista de araque, bate continência pra bandeira americana. Já presidente, vende Embraer, fatia a Petrobras e faz o diabo pra destruir o que levamos décadas para pôr de pé.

Tá óbvio ululante pra você agora?

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A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) ficou pequena na terça (30) pra multidão que lotou as dependências do prédio histórico e ruas do entorno a fim de dar um abraço literal e simbólico ao jornalista Glenn Greenwald, editor do Intercept Brasil que, junto a outros veículos de comunicação, vem divulgando mensagens comprometedoras de procuradores da Lava Jato e do ex-juiz e atual ministro da justiça (com j minúsculo mesmo) Sergio Moro.

Glenn, que teme ser preso, usou a sua voz para defender a liberdade de imprensa e o jornalismo contra ações arbitrárias do Estado. Cada vez mais evidentes.

Helcio Albano é jornalista editor do Jornal Daki.