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O Fanfarrão - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Foto: Pixabay
Foto: Pixabay

Maristela estava feliz. Conseguiu ser chamada pela Prefeitura Municipal de São Gonçalo para assumir uma vaga na administração pública depois de ter estudado muito para passar no concurso. Era seu primeiro dia de trabalho e no final do expediente saiu para comemorar com as amigas. No banheiro da repartição dançava na frente do espelho enquanto cantava: “...Cabelo? Tá ok! Maquiagem? _Tá ok! Unha, tá OK! E o coração? _Em paz! Cantava e fazia a coreografia.


Chegaram cedo à quadra da GRES Unidos do Porto da Pedra. A bateria já estava esquentando, com poucos componentes ainda, mas num balanço que não deixava ninguém parado. Maristela sambava e parecia uma daquelas passistas que trazem o samba nas veias e parecem sambar até no olhar.


Os compositores foram chegando devagar, já pediram alguns baldes de cerveja, se alojaram perto do bar para que a reposição do estoque etílico fosse rápida e começaram sua festa particular. Zé Mequetrefe veio pelos cantos da quadra, matreiro felino da savana africana em busca de uma fêmea fogosa. Ficou longe de seus pares, pediu uma cerveja mais cara e diferente, bebia e olhava em todas as direções a procura de um olhar que completasse o seu.


Antes que o interprete terminasse a primeira parte do samba, Maristela, que tinha ido buscar mais um balde de cerveja no bar, desabou ao chão, um montão de gente já rodeou Maristela e foi um tal de por água no rosto dela, abanar, uns dizendo que tinha que por o corpo dela de lado porque se tratava se um enfarte e outros de telefone nas mãos ligando para a SAMU. Mequetrefe trincou os dentes, deu uma sacudida e sentenciou, falando aleatoriamente de olhos fechados: O caso é espiritual. Ela está devendo obrigação a “dona Maria Fumaça”, prometeu e não pagou. Meu protetor, “Malandro de Saquarema” acabou de soprar aqui nos meus ouvidos.


Novamente se sacudiu e segurou no balcão para não cair. Depois de algum tempo a ambulância chegou e os socorristas levaram Maristela ao pronto socorro. Ficou no soro algum tempo e após a medicação foi liberada e voltou para casa. Vai ficar bem e na próxima semana estará firme e forte mostrando todo seu requebrado e leveza no samba.


Quanto a mequetrefe, ao ir apanhar seu carro no estacionamento, o presidente da ala de compositores dá de cara com ele conversando com uma passista e dizendo que se não fosse ele ter incorporado seu “protetor” as coisas ficariam muito difíceis, quando viu o presidente ainda falou: Pergunte ao presidente. Não foi mesmo presidente?


O presidente abriu a porta do carro, ligou, deu a partida e lentamente ao passar pelo casal respondeu sem parar o carro: _És um fanfarrão Mequetrefe. Um fanfarrão!


A menina sorriu, deu um beijo no rosto de Mequetrefe e saiu andando. Apesar de nublado, o céu abençoou mais uma bela e divertida noite de samba.


Vivas á vida!


Vivas ao GRES Unidos do Porto da Pedra!


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.






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