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Amor, estranho amor - por Paulinho Freitas

SÃO GONÇALO DE AFETOS


Foto: Cristiana Souza
Foto: Cristiana Souza

O centro de São Gonçalo, durante a semana, entre 12 e 13h, ferve de crianças, jovens e adolescentes indo e vindo das e para as escolas. Um grupo, parado em frente a um desses carros que ficam parados na frente das escolas e que vendem de chiclete a carro 0km, combinava de matar aulas e não sabia para onde ir passar o tempo. O shopping, além de lotado, já está fora de moda e como nenhum deles possui “mesada”, a não ser as que ganham em desentendimentos nos bailes de final de semana em suas comunidades, estavam de pés e mãos atados.


Uma menina, sempre as mais sensatas, disse: _Gente! Vamos pro colégio, ficar aqui ou ficar andando à toa não vai levar a gente a lugar nenhum. Pensem no futuro galera! Um dos meninos a rechaça: _Fala sério! O colégio é ruim, a comida é ruim, só tem “mulé” feia e a professora é velha, chata e só fala merda. Tô fora! Só vou pra aula quando tô a fim de “zoar o plantão!” E gargalhou, encontrando eco nos demais.



Lembrei na hora de minha primeira professora. Maria Cecília era seu nome. Quando cheguei à alfabetização já sabia escrever e ler meu nome e já escrevia em garranchos algumas palavras, o espaço da sala que eu estudava era dividido com mais uns quinze colegas. Ela falava baixo e pausado. A escola era pública, ela era muito legal e nova. Mesmo com o passar do tempo ela aparentava menos idade do que realmente tinha.


O filho de um amigo estuda numa escola alemã, na zona sul do Rio, as professoras não são chatas e são novas. O espaço das salas de aula é dividido por quinze alunos, elas falam baixo e pausado. As crianças não “zoam o plantão” e aos quatro anos já estudam em dois idiomas, o salário dessas professoras é bom e a carga horária justa.


O professor público vem, há muito tempo sofrendo decréscimo de salário, encara turmas de quarenta, cinquenta alunos, em sua maioria “zoando o plantão”, precisa gritar para que os interessados em estudar ouçam, trabalha em mais de uma escola para poder equilibrar as contas, recebe alunos que, já no sexto ou sétimo ano não conseguem ler e consequentemente entender o que está sendo ensinado, está estressado, depressivo, envelhecido precocemente e os alunos o classificam como um chato. Nos dias atuais o professor sempre adoece da mente, do corpo e do coração. Os pisos salariais não são pagos, os planos de carreira não são cumpridos.


Passo pela UERJ e vejo aquelas pessoas, cheias de ideias, vontade e tesão pelo magistério, estudando para ensinar.


Que o quadro negro lhes seja leve!


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Paulinho Freitas é sambista, compositor e escritor.



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